domingo, 11 de dezembro de 2011

ATENÇÃO: Casa Nova!!


Foram bons anos aqui no Blogger. Mas eu gosto demais de mudanças. E resolvi mudar algumas coisas para que 2012 realmente tenha uma cara nova. E a primeira mudança vem um pouco antes do início do ano. É uma casa nova para minhas publicações!
Espero continuar nesta que é a minha mais prazerosa atividade. E espero também que possa, de alguma maneira, contribuir para que alguém, pelo menos, não se sinta tão só neste mundo!
O Novo endereço:

Até breve!

domingo, 6 de novembro de 2011

Hay días que no sé lo que me pasa...





Há dias em que realmente não sei o que se passa, porque parece que tudo anda tão mal. Em alguns dias tudo parece correr bem, tudo parece ser "normal". Em outros, no entanto, a dor de viver cresce desmesuradamente. A canção na qual se ouve "cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é" explica bem esse sentimento. Sim, a dor de viver!



Busco, freneticamente, aplacar toda essa dor, essa confusão aprendendo coisas novas ou tornando novas as coisas velhas, aprendendo a olhar tudo com um novo olhar, lutando contra o que parece ser mais forte que eu. Culinária, artesanato, leituras, animais, conversas, encontros, passeios. Tudo é cuidadosamente avaliado na intenção de fazer do dia uma coisa menos desesperadora, menos angustiante. E, às vezes, até consigo.



Passo longas horas rindo, brincando e concentrada numa nova tarefa, ou numa velha tarefa. Concentrada nos novos olhares sobre as coisas de todo dia. Noutros, porém, por mais que não me dê conta, sou pega presa num passado que nem tenho certeza de ter existido. Ou num presente que deixa de existir, porque não vivido.



As lágrimas misturam-se com a água do banho, ou nas ruas, com a chuva. Molham o travesseiro, aliviam e lançam dúvidas, medos e às vezes esperança.



O difícil equilíbrio! Se houvesse um manual de viver talvez me fosse de grande ajuda. Por outro lado, poderíamos ter experiências genuínas de amor quando seguimos uma cartilha? E o que torna a vida tão terrivelmente profunda - em dores e em alegria - seria esse mesmo amor? O que não nos contam nos preserva ou nos priva?



Há dias como hoje, em que muitas músicas parecem falar para mim, diretamente; em que por mais se tente, não se consegue sair do mesmo lugar.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Trinta dias

Enquanto vocês esperam, talvez eu vá andando.
Não posso parar porque me lembro da dor.
Enquanto vocês ignoram, eu luto para crer.
Não posso mudar, eu preciso lutar.
Enquanto vocês esquecem, eu sofro.
Pedaços de mim se vão, dia a dia, aguardando uma resposta.
Vocês fecham os olhos e acreditam que isso é desnecessário.
Eu deito e grito para que o dia recomece. A noite me faz tremer.
Enquanto vocês continuam com suas vidas inventadas, suas felicidades compradas, suas verdades fabricadas, eu choro.
E no choro me uno àquilo que ajudou a me construir, a me transformar, a fazer de mim o que sou. Tornamo-nos um.
E enquanto vocês sorriem, eu procuro no vento o perfume, a imagem, a voz daqueles que lutaram para ver tudo diferente.
Vocês passam por tudo e não mudam.
A vida passa por mim e tento juntar meus pedaços.

domingo, 16 de outubro de 2011

Por que escrevo

Há diversas razões para escrever. Algumas me movem mais que outras. Mas todas elas me levam para uma viagem por lugares lindos ou por lugares que temo
Às vezes saio renovada, outras cansada e deprimida, mas após cada experiência tenho a oportunidade de ver as coisas de um modo diferente.
De vez em quando escrevo porque sou melhor escrevendo que falando.
Outras porque me falta coragem para olhar nos olhos.
Às vezes escrevo pois entendo que é assim que posso ser EU, de verdade.
Escrevo para que alguém, ao ler, não pense mais estar sozinho.
Para que alguns possam rir, para que outros vejam que é possível.
Escrevo para irritar algumas pessoas e para saudar outras.
Escrevo porque isso me alegra, porque me alivia, porque sinto que posso compartilhar minhas dores e minhas vitórias.
Escrevo, às vezes, para não me sentir tão só, ou para que não se sintam sós.
Escrevo porque minha mente não consegue parar. Porque minha alma necessita deste momento.
Escrevo, enfim, para não esquecer, mas também, para não ser esquecida.




sábado, 8 de outubro de 2011

Versando


Meu coração acelera
Toda vez que tento encontrar
Aquelas palavras de amor
Que a boca insiste em negar
Com lágrimas nos olhos
Deixo a esperança chegar
Para que com sua sabedoria
Possa minh'alma acalmar


quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Perdas ou Um triste feliz aniversário

Com o tempo a dor parecerá machucar menos, mas ainda machucará. A lembrança por vezes nos fugirá, passaremos instantes acreditando que nada disso aconteceu.
Em alguns outros momentos a realidade se fará ainda mais cruel e tentará destruir nossos sonhos, acabar de vez com nossas esperanças, abalar qualquer porto seguro que acreditemos ter construído.
E nossa mente tentará nos ludibriar, confundindo os desejos com a realidade. E nos perguntaremos, trêmulos, se tudo foi mesmo verdade.
E olharemos os recortes de jornais, buscaremos atualizações e não as veremos, e saberemos que a nossa perda é real. Que nossa dor não é infundada, que muitas palavras ficarão para sempre sem serem ditas. Que muitos planos não se concretizarão. Que os sonhos foram mesmo perdidos...
Por mais que busquemos respostas, talvez elas não cheguem à nós. Por mais que tentemos fechar os olhos e recordar os momentos felizes, uma hora as imagens irão ficar borradas em nossa memória, e recorreremos às fotos, às imagens congeladas, que guardarão para sempre um sorriso infantil, um brilho peculiar nos olhos, a face de um eterno jovem.





Não há nada que possa expressar a dor da perda. Não há lágrimas que nos cansem de lutar contra este sentimento. Não haverá dias suficientes para superar. Mas temos e teremos sempre, a alegria de ter tido em nossas vidas a presença de um ser especial.
Essa é uma pequena homenagem ao amigo Tiago Gustavo Crozatti Machado, morto no dia 18/09/2011. Hoje, 21/09/2011 seria seu aniversário de 30 anos. Será para sempre um menino.

domingo, 21 de agosto de 2011

Sobre família, fé e férias

Cada pessoa tem um dia só seu, a cada um dos doze meses do ano, para ser feliz sem perguntar o porquê, para cantar pelas ruas, para rir sem motivo, para ser plenamente feliz. Foi o que meu irmão me disse esse ano. Confesso que às vezes me pego sorrindo no caminho de ida e volta pra casa, sem nenhum motivo aparente, mas nunca pensei que aquele poderia ser um dia diferente dos outros. Diferente porque era meu. Só meu. O meu dia no mês.
Penso agora que esse dia importante serve também para nossos encontros com as forças superiores, sejam elas quem forem. São os dias em que nada pode nos fazer brigar a sério, em que tudo nos parecerá lindo, em que as cores são mais nítidas, as músicas mais melodiosas, o vento, a brisa que tanto esperamos.
Esses dias mágicos podem nos fazer, ainda que por poucos instantes, ver a vida com uma beleza ímpar, agradecer pela vida, pelos ensinamentos e pelas pessoas que nos cercam. Nestes dias aprendemos o valor das coisas e das pessoas, da nossa vida. Neles podemos captar, mesmo que por rápidos momentos, o real significado da vida.
O triste de saber isso, é saber que passamos os longos doze meses do ano sem atentar para estes dias. Nem ao menos paramos para refletir sobre qualquer coisa. Nosso mundo egoísta, frio, competitivo nos ensina que temos horário a cumprir, metas a alcançar e pouco ou nenhum tempo para sonhar, para sermos quem somos.
Podemos fazer qualquer coisa - cantar na rua, amar, sorrir - em qualquer outro dia do mês, do ano. Mas me pergunto se sentiremos a mesma emoção que neste dia que é nosso.
Houve um dia, pelo menos, em que pude identificar essas coisas. Um dia em que soube - depois da lição de meu irmão - que a escolha do dia pode mudar a percepção de algo. Se eu tivesse feito a minha viagem à Aparecida num dia meu, talvez tivesse saído de lá com outra visão. Mas nem sempre podemos esperar pelo "belo dia", e pode ser que esperando, não tenhamos a leveza de saber quando ele o é.
Porém, se no dia em que aprendi esta preciosa missão, não estivesse feliz, leve - como estamos nos dias que são nossos - e pronta para ouvir, não tivesse visto a beleza nas palavras daquele homem, que é parte importante de minha vida, parte importante de algo que só há pouco tempo aprendi a apreciar: minha família.
Posso dizer, enfim, que por mais curtas que tenham sido minhas férias, trouxe, para toda a vida, preciosas lições.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Sobre o silêncio

A propósito da discussão sobre o direito de expressão, uma frase tem martelado minha mente. Algo que ouvi - pela primeira vez - há muitos anos na escola: "posso não concordar com o que você diz, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-lo".
Críamos que o direito der se expressar era algo que já não podia ser contestado, mas não é o que vemos.
Posso ser a favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo (como realmente, sou), mas se for contra devo manter-me calado.
Quando alguém se manifesta contrariamente a esta questão - e a muitas outras - é massacrado.
Não defendo, em absoluto, a posição de pessoas que vieram a público criticar, negativamente, os homossexuais, por exemplo. O que questiono é o peso da imposição de silêncio para a discussão, para o desenvolvimento intelectual. É como se um professor pedisse um trabalho sobre um assunto qualquer e desse notas baixas a quem discordasse dele, de suas próprias ideias, ainda que o aluno tivesse feito um trabalho excelente.
Como estimular discussões, aprimorar ideias, alimentar debates construtivos se silenciar todo aquele que discorda de mim?
A violência, a discriminação, isso deve ser combatido - e punido. Mas, creio eu, não se alcança sucesso silenciando o diferente. Fazer isso, a meu ver, é repetir os erros que levamos séculos para banir. É o mesmo que condenar à fogueira o que vê deus de uma maneira diferente da visão dominante.
Calar o outro - por mais que esse outro tenha ideias que nos desagradem - não faz desaparecer o problema. Em alguns casos pode alimentar uma bomba que poderá explodir a qualquer momento, causando imenso estrago...
Deverá haver limites? Acredito ser perigoso cair neste mérito. Será, sim, preciso usar de bom senso, mas que isso não signifique o emudecimento dos contrários.
Que o silêncio venha da reflexão, não da imposição de alguns.

domingo, 31 de julho de 2011

Estamira

Assisti ao documentário Estamira na noite de sábado (30/07/2011) e a questão que surgiu depois foi como pessoas como ela permanecem no mais completo "silêncio". Eu defendi que ela teve uma grande sacada. Mas ouvi que não, já que ela mesma havia dito que gostava de ajudar mas nunca "fez nada", isto é, nunca foi atrás de alguém que a ouvisse, ou pudesse escrever suas ideias.
Como afirmar isso, vendo que os que a cercavam, em sua maioria, a tinha como louca? Que credibilidade tem um cidadão como ela?
Por mais útil, por mais certo, por mais profundo, sábio, incrível, significativo que seja o que se tem a dizer, quem pára, realmente, e ouve o que as estamiras têm a dizer? Quem são os moradores de barracos, os catadores de "lixo", os mendigos?
Nós não nos interessamos por eles; queremos que permaneçam escondidos, invisíveis, em absoluto silêncio.
É preciso ter credenciais para falar, para ser ouvido. E as credenciais são muitas: diplomas, terno e gravata, imagem pública "positiva", dinheiro. Principalmente dinheiro.
Sem estas credenciais você não tem o direito de reivindicar seu espaço para falar e ser, efetivamente, ouvido.
Você pode falar e muitos o fazem, mesmo sem as credenciais. Mas quantos são ouvidos? Quantos são ouvidos e compreendidos? Quantos são ouvidos e levados a sério?
A Estamira conseguiu ser ouvida. Mas quantos a compreenderam? Quantos questionaram a vida e suas "verdades" depois do documentário? Quantos não a viram somente como louca? Quantos, enfim, querem saber da "verdade"? São muitas as perguntas, creio eu, mas poucas as respostas.
Num mundo onde falar deveria ser, no mínimo, facilitado graças ao avanço da tecnologia e do acesso aos inúmeros meios de comunicação hoje existentes, temos mais exclusão. "Quem é você na ordem do dia?". Se seu nome não diz nada no google, suas "credenciais" não são válidas.
Neste mundo onde deveríamos, pelo menos, poder falar, muitos de nós ouvem apenas uma ordem: permaneça em silêncio.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Minha Sampa

Eu acredito que a gente passa boa parte da vida procurando um lugar que seja nosso, um lugar onde pareçamos estar inteiros. Pelo menos é a impressão que tenho.
Sempre ouço as pessoas dizerem algo como "nada como a casa da gente" ou "nada como um feriado no campo" ou ainda "nada como um fim de semana no litoral". Ou seja, essa busca por um lugar onde as nossas energias são renovadas, onde, quem sabe, a esperança ressurja. Algumas pessoas voltam completamente energizadas das montanhas, outras do litoral, outras do campo e outras ainda de um bar, uma biblioteca, da casa dos pais. Eu renovo as minhas energias em São Paulo.
Nasci naquela cidade que para mim é linda, completa. Saí de lá há muitos anos, quando ainda não podia fazer minhas opções, e nunca mais voltei. Já larguei tudo muitas vezes, mas ainda não larguei tudo para voltar para casa e confesso que não sei bem o porquê. Às vezes penso que pode ser pelo medo de ver minha terra encantada se dissolver frente à dureza da vida, das almas cansadas, das lágrimas, das dores. De longe, tudo é lindo e perfeito. Por pouco tempo é minha terra prometida. E tenho, sim, medo de acabar com tudo isso.
Por outro lado, a sensação única que me toma o corpo toda a vez que estou chegando lá... É algo tão mágico que tenho medo de nunca mais sentir. Não há nada que possa substituir esse sentimento, nem há palavras para explicar o que sinto. E o que vem quando preciso voltar é a dor. A dor de separar-me de minha mãe-terra.
Como em breve estarei levando minhas baterias para recarregar, não pude deixar de expressar o maior amor por aquela que desperta tantos sentimentos controversos nas pessoas: a minha cidade, a minha terra da garoa, a minha casa, minha Sampa.

Abstinência

Há alguns dias sem livros, minha cabeça começa a não funcionar mais direito.
Tenho as revistas que assino, os sites, as redes de relacionamento, as páginas de notícias e os de livros online, enfim, uma série de opções, mas meu cérebro não aceita esses "genéricos". Para ele, concebido e aprimorado através dos métodos tradicionais (risos) a coisa só faz sentido através do bom e velho livro. Quando eu pego um livro, não importa do que se trata, eu sinto a história dele, sinto a vida que pulsa nele e através dele. O computador não tem essas coisas, é artificial demais, frio demais. Você não desliga um livro, você o fecha e o deixa de lado, e ele fica ali, olhando você, te encarando até que te vence e você volta à leitura. O computador obedece fria e secamente ao comando de desligar.
As minhas ideias continuam aqui, brotam feito as pragas do jardim, sem necessitar de qualquer cuidado, mas elas parecem frágeis, meu corpo parece frágil, minha inspiração... É como se sem os livros o imenso universo que existe para mim se tornasse menos real, envolto na névoa, fugindo de mim a uma velocidade que não posso acompanhar.
Essa sensação deve ser como a de não pensar mais, só que de maneira angustiante. É quase como sentir falta de ar. Os livros são alimentos para mim. E essa fase de abstinência é sofrida, é doída, é triste.
Mas é uma das poucas formas de me forçar a encarar as coisas que não estão escritas numa folha de papel e tentar me interessar por elas. Se sairei da experiência com a sanidade intacta ainda é um mistério, mas estou quase descobrindo o significado de "paciência de Jó", e isso já deve ser bom.

domingo, 17 de julho de 2011

Manchas

Aquilo que calo também me mata. O que falo também magoa.
Das palavras que mancham o papel, poucas expressam o que sinto. E o que sinto, não sei se posso dizer.
De cada silêncio aprendo um pouco da alma, da minha alma, da alma dos outros.
De cada olhar fixo o momento. O momento em que vi algo que não foi, e nem será dito. De cada lágrima vertida retiro o segredo, o segredo das palavras que se perdem no vento, que perdem no coração.
De cada página compreendo a história. Histórias que não cabem em livros. Histórias sem fim, histórias alegres e dolorosas, mas que papel algum poderá guardar, que lápis algum saberá transcrever, que boca alguma poderá falar, que ouvido algum compreenderá, que poucas almas saberão.
Histórias que vejo no brilho de um olhar, no tremor de algumas mãos, nos lábios que calam, no vento que me traz sua voz ainda que ninguém mais possa sentir.
Palavras que são apenas manchas diante de tudo o que é possível viver. Manchas que jamais serão apagadas, pois que estão gravadas onde ninguém jamais conseguirá chegar: no fundo de uma alma cansada de verter lágrimas e palavras que poucos querem compreender.

sábado, 9 de julho de 2011

Sem saber

Ela estava lá. Parada. O olhar meio perdido. Balançou a cabeça e resolveu sair. Sim, precisava se livrar daquele pensamento.
Nas ruas movimentadas, tentou se concentrar nas vitrines, nas pessoas, nos carros.
Aquele barulho todo também não estava ajudando.
Onde haveria paz? Onde haveria o silêncio de que tanto precisava?
Andava, andava. Sentou-se num bar.
Colocou a cabeça entre as mãos e resolveu acender um cigarro.
Isso sempre ajudava. Sozinha no bar pediu uma música e foi atendida. Sorriu. Ainda havia lugares que podia frequentar.
Intolerante. Seria essa a palavra?
Nos últimos dias sua capacidade de concentração foi terrivelmente abalada, e não sabia o quê exatamente havia provocado aquilo. Mas podia, sim, listar alguns agravantes.
Tomou sua bebida e levantou-se. Acompanhou a multidão.
Sem perceber conseguira silenciar o pensamento, e já nem ao menos sabia do que se tratava. Agora seguiria o caminho junto com os outros, não importando para onde estavam indo.

sábado, 18 de junho de 2011

Fazendo falta

Há alguns anos me perguntaram se eu era feliz.
Naquele tempo eu ainda não sabia. Mas também não pude dar esta resposta. As pessoas se sentem mal se você não alega ser feliz.
Para mim a felicidade parece ser mais coisa de momento. É mais estar do que ser. Mas conheço gente que se diz feliz. Sendo feliz, sempre.
E dizem que ter saúde, casa, família, amigos é ser feliz. Pensando deste modo - e eu não penso - não haveria quase nenhuma infelicidade no mundo.
No entanto, as pessoas parecem contentes, satisfeitas, acomodadas. Não me parecem felizes; não plenamente. Mas não posso falar pelos outros. Cada um, afinal, já diz a canção, sabe a dor e a delícia de ser o que é.
Não é que eu seja a pessoa mais infeliz do mundo, mas confesso que quando imaginava meu futuro, não o via da forma como é hoje, não imaginava sentir o que sinto. E sei que boa parte do que vivo é por conta dos caminhos que escolhi. Não é culpa de outras pessoas. No máximo os outros podem complicar um pouco, ou não colaborar com isso ou aquilo. Mas temos a obrigação de não permitir que nos façam infelizes.
Então o que falta?
Falta algo dentro de mim. Falta algo que talvez exista, talvez não seja coisa de livro. Falta aquela vontade louca de viver todo dia, de se alegrar com o canto dos pássaros, com o vento no cabelo, com uma música que toca quando você passa e te faz lembrar dos bons tempos.
Ou pode ser que algumas pessoas passem a vida numa busca sem fim por esta tal felicidade.
Tem dias em que eu não sinto, mas em alguns outros a felicidade faz uma grande falta.

domingo, 8 de maio de 2011

Capas




Por vezes, no fim da tarde, sentada em uma velha cadeira na varanda de casa, observando as folhas que caem das árvores, penso em como a vida poderia ter sido caso algumas escolhas tivessem sido feitas. Como uma simples atitude poderia ter feito a diferença... Poderia mesmo haver essa diferença?

O vento me lembra que ainda estou ali, e que em breve o sol terá se posto. Entro e sento nos braços de uma velha poltrona na sala. Olho pela janela. Um gato roça minhas pernas.

Olho para outro canto. Minha estante repleta de livros. Livros que fizeram minha vida, que completaram meus dias, que criaram personagens novos. Que me fizeram parar ou seguir em frente. Sempre me dei bem com as palavras. E não muito bem com as pessoas.

Levanto-me e acaricio as lombadas de meus livros. Para onde irão após o meu fim? Alguém sentirá por eles o mesmo que eu? Terão um dia a importância que têm para mim?

Não importa. Nada mais importa.

A esta altura não devo mais me preocupar com isso. Não mais. Toda história tem seu fim, afinal. E a nossa não será diferente, penso.

Olho novamente pela janela. Encosto a mão no vidro e depois, a testa.

Olho para trás. Suspiro.

Assim como a capa de meus livros, minha vida perdeu a cor e o brilho. E não há restaurador para esse tipo de coisa.

domingo, 3 de abril de 2011

Discursos


Disseram que era o melhor a fazer. Disseram que era o caminho correto a seguir. Eles deveriam saber o que fazer. Estavam há muito tempo naquele caminho.

Em geral, as pessoas adquirem experiência e sabedoria durante a caminhada. Não poderiam errar... Eram dignos de confiança...

Deveria acreditar em suas palavras, pareciam que eram ditas com carinho e com aquela certeza que somente poucas pessoas possuem. Era preciso confiar neles.

A estrada desenvolvia-se tortuosa, longa, empoeirada. Mas era seguro. Eles disseram que era.

Pediram que acreditasse, que não tivesse dúvidas. Que fosse adiante, que no fim... - ah, o fim - estaria tudo ok. Tudo sairia bem.

A caminhada era extenuante. Mas o resultado prometia ser maravilhoso. Valeria cada passo, cada lágrima, cada minuto de dor e medo.

Eles incentivavam. Sempre. Continue. Siga adiante.

Para onde? Não há final nesta estrada!

Vocês se enganaram. Vocês me enganaram, meus caros!

Vocês mentiram!

sábado, 19 de março de 2011

A cada livro



Os livros são para mim como drogas. Como imagino que as drogas sejam para um viciado.
Ao pegá-los não posso mais deixá-los até que chegue ao fim.
Devoro-os como se deles dependessem minha vida, como se a falta deles pudesse me deixar sem ar.
Perco o sono, a vontade de comer, de fazer qualquer outra coisa que não seja acabar com ele, absorver cada linha, cada ideia, cada página...
Durante toda a leitura, a tensão se espalha pelo corpo, os ombros rijos, o pescoço dolorido, a face contorcida.
Ao fim, uma certa tranquilidade, o sentimento de missão cumprida. Um sorriso frouxo nos lábios. O êxtase. O clímax da droga.
E depois... Bem, depois aquela agonia outra vez.
O desespero em busca de outro livro, de outra história, de outras teorias.
Linhas que me hipnotizam, me prendem, me dominam.
Impaciência.
O nervosismo me leva a morder a parte interna da boca, os lábios, os dedos. Não é possível prestar atenção em nada. Em ninguém.
Arranco os cabelos, mexo as pernas incontrolavelmente. Até que eles cheguem. O entregador é aguardado com extrema ansiedade.
Aquela caixa contém a minha droga. O meu alívio.
Sento-me na cadeira, próxima à janela. E abro um novo mundo. Aventuro-me por ele, descubro novas fontes de alegria, aguço a curiosidade, alivio as tensões. Transporto-me para um outro universo e não posso mais pertencer à realidade ao meu redor.
Somente tenho olhos e sentimentos para aquelas páginas de papel à minha frente.
Tranquilizo-me até me dar conta que o fim está próximo. E desabo frente à verdade estampada nas folhas brancas repletas de palavras: vai começar tudo de novo...

domingo, 6 de março de 2011

Prisão


Sentia-se uma intrusa em sua própria casa. Era como se até o leve som de seus passos denunciassem a indesejada presença, como se por algum motivo ela não devesse estar ali.
Era como se ela fosse uma invasora: algo de tal forma incompatível com o lugar que o ar que respirava parecia denso demais, ou até tóxico, àqueles a quem sua existência parecia agredir.
Houve um tempo em que desejara um lar repleto de paredes, muitas. Um mundo de certa forma imenso e onde a descoberta seria lenta e instigante.
Agora era diferente. Tudo o que desejava era a segurança e o conforto de quatro paredes. Quatro paredes bem definidas onde seus olhos pudessem esquadrinhar cada centímetro, onde o horizonte fosse logo ali, onde somente sua respiração - e nada além dela - pudesse ser sentida. Um lugar que fosse inteiramente seu. Um lugar seguro, enfim.
Um universo exclusivamente seu onde nada e ninguém pudessem fazê-la sentir-se tão distante de si mesma. Seu universo. Onde poderia viver aquela vida ímpar e ter a garantia de que nada interromperia a brisa leve de seus pensamentos.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Sobre pessoas


Existem pessoas que têm um dom. Uma capacidade incrível de fazer algo. Mesmo que seja algo ruim.
Certas pessoas conseguem com poucos atos - algo como um sorriso cínico, uma olhada implacável, um simples movimentos das mãos, às vezes do corpo - estragar por completo o dia dos outros.
E muitas vezes nem ao menos se sentem culpadas por isso. De certa forma parecem seguir adiante tendo a sensação da missão cumprida.
Com uma palavra, ou mesmo se abstendo destas, destroem esperanças, afastam quem os cerca, deixam o ar pesado, afastam o desejo de sorrir, tornam as pessoas inseguras ou as deixam sem saber como agir, beirando, às vezes, o medo.
Com sua presença enchem o espaço que poderia ser preenchido por alegria e leveza, fazem do silêncio uma arma e de qualquer palavra de carinho motivo para envergonhar.
Pessoas que, pelo simples fato de respirar, podem fazer calar os demais.
Pessoas que fazem desejar o fim do dia, o fim da folga, o fim das férias. Pessoas que fazem com que você se arrependa de estar onde está. Com uma intensa capacidade de irritar aos demais, de aborrecer os que ficam por perto.
É, eu sou exatamente este tipo de pessoa...

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Então, o dia...



Não sei bem por que, mas parece que quando eu era criança as mulheres de trinta eram mais velhas.
Minha mãe, por exemplo, aos 30 já tinha dois filhos: eu com 8 anos e meu irmão com 6.
Olhando para trás, minhas lembranças me traem. Pareço ver tais mulheres já com as marcas da idade estampadas no rosto e o início dos cabelos brancos, com tantos afazeres que somente em próprias fotos e lembranças poderiam lembrar-se da juventude.
Hoje, aos trinta anos, não consigo ainda imaginar-me assim. Ao olhar-me no espelho não enxergo a idade que os documentos insistem em afirmar.
Claro, a gravidade e a vivência deixaram suas marcas - e insistem em continuar deixando - mas porque diferem tanto das mulheres de minhas memórias?
Aos dez anos eu achava que poderia morar sozinha e ser independente. Aos 18 parecia que estava velha demais, mas aos 20, quando enfim saí de casa, parecia uma garotinha assustada.
Hoje, bem... Continuo carregando velhas dúvidas, alimentando medos - os novos e os de outrora - mas é como se alguma coisa não acontecesse: como se de fato eu não estivesse ficando mais velha.
Vejo ainda a menina assustada e ao mesmo tempo destemida, cheia de sonhos. Vejo a menina que custa a levar algo a sério, mas que encara a vida com a seriedade própria de uma "geniosidade" ímpar.
Vejo uma menina. Sim, uma menina que parece andar na contramão da idade, na contramão da realidade, e talvez seja esta a fórmula.
Talvez seja o fato de alimentar tantos sonhos e de agir como se tudo fosse durar para sempre, ou de viver como se hoje fosse o meu último dia por aqui e desejar ficar em silêncio e sozinha até o fim. Não sei. Talvez não se possa saber.
Talvez as mulheres de hoje - de minha geração - tenham, em suas vidas, passado pelas coisas com mais leveza e alegria que as de outros tempos e isso nos dê a vantagem de não parecermos tão sérias (ou devo colocar outros termos?). Talvez seja nossa comida... Não sei. Não sei mesmo, e confesso que embora o fato de não saber me irrite, o fato de não saber também me anima. Pode ser esse o motivo de me considerar mais menina que mulher. Mais uma criança que ama brinquedos que uma adulta que assume, sem pestanejar, suas responsabilidades. Afinal, para que mais responsabilidades que a de garantir um dia inteiro de paz e alegria? Principalmente por não saber se será o último...
O fato é que agora, aos meus longos trinta bem vividos anos, desejo não mudar muito; desejo que a natureza seja bem bondosa comigo - por que não sou muito dedicada - e que eu possa me considerar merecedora dos presentes que tenho recebido ao longo destas três décadas: uma família absolutamente maluca (e incluo aqui meus gatos) e os amigos mais incríveis que poderia existir.
Realmente, eu só tenho a agradecer. Pelo menos, por trinta vezes...
* * *
À propósito, escrevi este texto numa madrugada, em 16/01/2010, quase um ano antes, tamanho foi o desespero que tomou conta de minha alma no período pré-trinta...