sábado, 22 de janeiro de 2011

Sobre pessoas


Existem pessoas que têm um dom. Uma capacidade incrível de fazer algo. Mesmo que seja algo ruim.
Certas pessoas conseguem com poucos atos - algo como um sorriso cínico, uma olhada implacável, um simples movimentos das mãos, às vezes do corpo - estragar por completo o dia dos outros.
E muitas vezes nem ao menos se sentem culpadas por isso. De certa forma parecem seguir adiante tendo a sensação da missão cumprida.
Com uma palavra, ou mesmo se abstendo destas, destroem esperanças, afastam quem os cerca, deixam o ar pesado, afastam o desejo de sorrir, tornam as pessoas inseguras ou as deixam sem saber como agir, beirando, às vezes, o medo.
Com sua presença enchem o espaço que poderia ser preenchido por alegria e leveza, fazem do silêncio uma arma e de qualquer palavra de carinho motivo para envergonhar.
Pessoas que, pelo simples fato de respirar, podem fazer calar os demais.
Pessoas que fazem desejar o fim do dia, o fim da folga, o fim das férias. Pessoas que fazem com que você se arrependa de estar onde está. Com uma intensa capacidade de irritar aos demais, de aborrecer os que ficam por perto.
É, eu sou exatamente este tipo de pessoa...

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Então, o dia...



Não sei bem por que, mas parece que quando eu era criança as mulheres de trinta eram mais velhas.
Minha mãe, por exemplo, aos 30 já tinha dois filhos: eu com 8 anos e meu irmão com 6.
Olhando para trás, minhas lembranças me traem. Pareço ver tais mulheres já com as marcas da idade estampadas no rosto e o início dos cabelos brancos, com tantos afazeres que somente em próprias fotos e lembranças poderiam lembrar-se da juventude.
Hoje, aos trinta anos, não consigo ainda imaginar-me assim. Ao olhar-me no espelho não enxergo a idade que os documentos insistem em afirmar.
Claro, a gravidade e a vivência deixaram suas marcas - e insistem em continuar deixando - mas porque diferem tanto das mulheres de minhas memórias?
Aos dez anos eu achava que poderia morar sozinha e ser independente. Aos 18 parecia que estava velha demais, mas aos 20, quando enfim saí de casa, parecia uma garotinha assustada.
Hoje, bem... Continuo carregando velhas dúvidas, alimentando medos - os novos e os de outrora - mas é como se alguma coisa não acontecesse: como se de fato eu não estivesse ficando mais velha.
Vejo ainda a menina assustada e ao mesmo tempo destemida, cheia de sonhos. Vejo a menina que custa a levar algo a sério, mas que encara a vida com a seriedade própria de uma "geniosidade" ímpar.
Vejo uma menina. Sim, uma menina que parece andar na contramão da idade, na contramão da realidade, e talvez seja esta a fórmula.
Talvez seja o fato de alimentar tantos sonhos e de agir como se tudo fosse durar para sempre, ou de viver como se hoje fosse o meu último dia por aqui e desejar ficar em silêncio e sozinha até o fim. Não sei. Talvez não se possa saber.
Talvez as mulheres de hoje - de minha geração - tenham, em suas vidas, passado pelas coisas com mais leveza e alegria que as de outros tempos e isso nos dê a vantagem de não parecermos tão sérias (ou devo colocar outros termos?). Talvez seja nossa comida... Não sei. Não sei mesmo, e confesso que embora o fato de não saber me irrite, o fato de não saber também me anima. Pode ser esse o motivo de me considerar mais menina que mulher. Mais uma criança que ama brinquedos que uma adulta que assume, sem pestanejar, suas responsabilidades. Afinal, para que mais responsabilidades que a de garantir um dia inteiro de paz e alegria? Principalmente por não saber se será o último...
O fato é que agora, aos meus longos trinta bem vividos anos, desejo não mudar muito; desejo que a natureza seja bem bondosa comigo - por que não sou muito dedicada - e que eu possa me considerar merecedora dos presentes que tenho recebido ao longo destas três décadas: uma família absolutamente maluca (e incluo aqui meus gatos) e os amigos mais incríveis que poderia existir.
Realmente, eu só tenho a agradecer. Pelo menos, por trinta vezes...
* * *
À propósito, escrevi este texto numa madrugada, em 16/01/2010, quase um ano antes, tamanho foi o desespero que tomou conta de minha alma no período pré-trinta...