quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

A última gracinha do ano

Só para terminar o ano com um quadro engraçado!!! E que além de tudo prova que não sou a única que não morre de amores pelas festas de fim de ano!!!

Além do mais... temos um antropólogo no meio!!!

Acabou?!



Último dia do ano. Último texto do ano.

Lá se foram as nossas promessas, os nossos compromissos inadiáveis e todas as coisas que juramos cumprir ao longo de 2009. Eu mesma deixei inúmeras coisas por fazer e outras tantas fingi que esqueci.
Deixei de estudar para ver filmes, para conversar no msn, para esperar qualquer coisa que fosse.
Academia? Ah... Essa vai ter que esperar mais um pouco. Até dias atrás eu dizia que no próximo janeiro eu começaria, mas agora, que janeiro já está aí dando as caras...
Quanto aos estudos, sim, esses voltarão com força.
Há tempos que não faço mais projetos pro ano que começa. Tenho uma impressão que por mais que possa dar certo, só pelo fato de eu ter me preparado para tal coisa, ela desanda! Acho incrível.
Deve ter a ver com aquelas coisas de física quântica, lei da atração.
Li um dia desses um cara que dizia que mesmo quando a gente quer algo - ganhar na loto, por exemplo - o nosso cérebro cria uma série infinita de "porquês" que acabam nos boicotando. Exemplo: "Desta vez o prêmio da mega é meu!" Aí vem o cérebro:"Mas tanta gente jogou e as probabilidades são tão pequenas..." Então pimba! Nos auto-boicotamos e deixamos de ficar milionários...
Se fosse tão simples assim a gente até tentava resolver não é?
Acredito que também incidimos neste erro, mas acredito também, que a gente faz corpo mole e acaba criando empecilhos para não realizar algumas coisas.
Mais um exemplo pessoal: este ano - de novo - eu me matriculei para enfim fazer minha licenciatura em Ciências Sociais. As duas professoras do primeiro semestre eram o que eu sonhava. Incríveis, engraçadas, sensíveis, enfim... Do tipo que faz com que as 4 horas de aula parecessem 10 minutos, insuficientes para tudo o que elas ainda tinham a dizer. Mas... - sempre existe um mas... Uma das matérias previa estágio. Sério mesmo, eu acho estágio uma coisa totalmente inútil. Estou há pelo menos 19 anos em salas de aula. Apresentei jograis (alguém se lembra disso????), seminários, apresentei em congressos e toda sorte de eventos que contrariando minha gagueira diante de qualquer público. Por que preciso ficar dentro de uma sala de aula fazendo estágio?
Junto a isso, eu trabalhava numa empresa onde as horas extras eram muito frequentes, logo... Saí das aulas. Com grande dor no coração é verdade, afinal, eu amo estar numa sala de aula, principalmente quando as pessoas que a dividem comigo colaboram para uma aula rica.
Onde quero chegar? Que neste caso, eu tinha tudo pra terminar o curso e pegar meu diplominha de licenciada, mas com uma coisa aqui, outra ali, parei o curso e até tentei dizer pra mim mesma que um dia eu retornaria e que as condições é que me forçaram a tomar essa decisão... Que mentira mais escabrosa!!!! Desisti e ponto final.
Então para 2010, eu espero apenas não começar nada que eu não consiga terminar, nada que eu não queira realmente realizar - tirando trabalhar, que isso eu não gosto, mas preciso fazer, afinal eu não tenho quem sustente a mim e aos meus gatos.
Espero que neste ano que começa e que me deixa mais próxima dos 30 eu não surte de vez e que as pessoas entendam que eu detesto essa época do ano sem, contudo, detestar a presença delas pra uma cerveja em comemoração a sabe-se o quê.
Espero também que os dias passem mais rápidos, as noites sejam mais longas, que o verão não continue sendo esta prévia do inferno que temos visto, que o inverno venha longo com com seus dias cinzentos e aprazíveis e que eu tenha muito mais dinheiro no bolso... até porquê, este ano a mega é minha!!!!!

domingo, 27 de dezembro de 2009

Enfim, o fim



Nunca gostei das festas. Em especial das festas de fim de ano. Em geral há um estardalhaço desnecessário, todo mundo fingindo, ou talvez, me pergunto, esperando um momento para poder se libertar das amarras do cotidiano e entrar numa fantasia com data e hora para acabar.
As festas de fim de ano então, para mim, são muito deprimentes.
As pessoas que se odiaram o ano todo chegam e se cumprimentam dando a falsa impressão de perdão, para na próxima semana - se muito - voltarem aos velhos rancores e mágoas. A antiga mágica é um mito. O negócio é gastar muito, comprar presentes que lembrem aos outros a tua existência, nem que seja só por mais um ano. É sempre a mesma coisa: a chatice do amigo-secreto, a mesmice de abraços frios e desejos sempre iguais de feliz natal e próspero ano novo. Mas que prosperidade? Na maioria das vezes sonhamos com o "muito dinheiro no bolso" e a "saúde pra dar e vender" a gente compra com esse dinheiro.
Enfim, sempre uma lorota, na qual, às vezes, você se deixa cair.
Em casa sempre tivemos um diferencial: é aniversário do meu pai. Não que isso marque muito a nossa festa de fim de ano, mas na maioria das vezes é apenas isso o que comemoramos.
Desde que saí de casa, no entanto, não tenho para mim como tradição voltar nesta época para passar a data entre os parentes, até porque isso mais me aborrece, mas em 2008 e neste ano, fui até lá para comemorar o aniversário do patriarca septuagenário.
Encontrei alguns parentes que há tempos não via, matei a saudade dos pais, e sofri com um colchão péssimo, num quarto pra lá de quente com muitos mosquitos como presente de natal, o que sem dúvida afastou qualquer remota idéia de permanecer mais tempo por lá. Mas duas coisas fizeram a viagem de 150 km valer à pena: o brilho inconfundível nos olhos de meu pai ao tirarmos o bolo surpresa e cantarmos parabéns como há muitos e muitos anos não fazíamos, e a certeza de que mais um passo foi dado.
Mais um passo rumo ao fim: ao fim das incertezas, dos medos, das tentativas frustradas, dos erros, das saudades, dos sonhos deixados de lado, dos projetos esquecidos, enfim de tudo o que planejamos há quase um ano e que por qualquer motivo que seja não deu certo.
Agora, rumamos para um novo ano, que para variar, traz com ele, todas as certezas que já tivemos, toda confiança que precisamos, todo brilho que queremos. A época das esperanças renovadas.
E quanto a este ano, bem ou mal, enfim, fim.

domingo, 13 de dezembro de 2009

A prisioneira



Aquela menina encantava. Tão cedo dada à arte de escrever.
Aprendeu a ler nos rótulos de produtos que a mãe comprava, sentada na escada de casa.
Na escola lia, escrevia, surpreendia. Todos os dias uma nova história.
Aos poucos escrevia seus pequenos livros. Livros para ela. Guardava-os com todo carinho em seu baú de recordações.
Mas para ela, nem sempre escrever era uma tarefa fácil: precisa se imaginar no papel de casa personagem. Precisava saber se aquilo poderia existir, se as emoções poderiam alcançar aquele ápice do qual ela falava. Então, atuava. Uma, duas, inúmeras vezes, até encontrar a perfeição. Era preciso dar vida às suas histórias.
Quando lia, não fazia grandes exigências: gastava do título, da capa, do nome do autor. Mas após as primeiras linhas, se não conseguia imaginar com ela mesma qualquer uma daquelas situações, abandonava a leitura. Dizia que o autor era um farsante. Concordava que escrever sobre as pessoas que se conhece não parecia boa idéia, já que se pode sempre omitir ou aumentar um fato como melhor convier, mas inventar sentimentos e situações que nenhum ser humano no mundo poderia viver... isso era inadmissível.
A menina cresceu, tornou-se moça, e os mesmos hábitos mantiveram-se. Nas aulas de português, era a menina dos olhos dos professores. Suas redações eram sempre premiadas. Os colegas alegavam que ao menos tinha um talento para se orgulhar, já que não era bonita, nem sequer elegante. Ossos longos, finos, pele pálida, como estivesse sempre se recuperando de um susto. Enquanto as garotas de sua idade já usavam sutiã, ele continuava com suas camisetas largas que não tinham o que esconder, seus jeans e tênis ha muito fora de moda.
Mas para o velho professor de português e literatura ela era um legítima pérola. Seu silêncio, sua languidez, sua timidez que a impediu tantas vezes de ler um de seus textos em sala ou nas semanas de comemoração da escola, tudo isso, segundo o velho professor, eram características de uma grande artista.
Segundo ela, tudo isso era repulsa. Repulsa por essa gente que se achava melhor que ela porque ficavam horas diante do espelho, ou correndo em esteiras indo para lugar nenhum. Repulsa pela vida sem sentido que guiava a muitos.
Não arrumava namorados, primeiro porque para eles, ela era estranha demais - "quem sabe não é sapatão?" diziam uns - depois porque para ela, estar ao lado de um corpo que não tivesse conteúdo algum era a pior desgraça que lhe podia ocorrer.
Passou os anos em livrarias, sebos, cafés culturais, sempre sozinha mas estranhamente feliz.
Alguns anos depois de se resignar a sair de casa apenas para o absolutamente necessário - vendia crônicas para um jornal da cidade - acordou de um pesadelo. Buscou incansavelmente uma ponta de sol que entrasse em sua casa, pela janela do quarto, da sala, da cozinha, do banheiro.
Não encontrou.
Sentou-se, respirou fundo. Afundou cada vez mais na poltrona e deu-se conta que era impossível sair dali. Havia criado uma muralha. Uma muralha de livros que lhe fechou todas as saídas, mas na qual vivia sua realidade treinada, feliz, mutável e ricamente elaborada na ponta de seu lápis.

domingo, 18 de outubro de 2009

Cinzas

Através das vidraças vê-se o pequeno movimento. Lá fora a chuva forte lava as ruas e as almas daqueles que se atrevem a sair para enfrentá-la.
O andar rápido, quase um correr, não se sabe se de pressa ou de cautela - talvez para tentar não se molhar tanto, quase sempre esforço inútil - anima um pouco o dia cinzento.
Dali, detrás das vidraças, não há o que temer. O calor da sala, o quase conforto do assento, torná-a apenas uma espectadora.

Assiste àquele evento como se não partipasse dele. Como se do lado de fora estivessem apenas atores. Como se fosse realmente uma encenação.
Olha para dentro. Para os que também - assim como ela - assistiam, inertes, ao espetáculo.
Ora, não! Não estão vendo nada.
Distraídos com outras coisas talvez, não se sabe. Ela não sabe.
O que sabe apenas é que eles não podem ou não querem - talvez não consigam - contemplar o mesmo que ela: a beleza do dia cinza com seus poucos protagonistas. A beleza daquele dia singular, cinza e úmido. Morno.
Seus atores todos, molhados, rápidos, desconhecidos.
Talvez - quem saberia dizê-lo - felizes, como ela, sentindo-se mais leves depois do banho que lava e leva aquele pó, aquele negrume que se acumulou ao longo da semana.
Semana que enfim chega ao fim, abrindo as portas para aqueles dias tão sonhados: cinzas, calmos, silenciosos. Sem o brilho dos atores do dia anterior, os da chuva, porém, dias nos quais ela poderia se realizar plenamente, fosse no aconchego das almofadas na cama, durante a leitura de um de seus livros de cabeceira, fosse nos braços quentes de seu homem.
Dias que a renovariam, que a tornariam mais forte e mais atenta.
Sim! Atenta aos pequenos espetáculos que a vida costuma oferecer, quase que com exclusividade para ela.
Enquanto esses dias não chegam, fica ali, em silêncio, olhando fixamente para as cinzas do dia, para suas lágrimas deixadas na vidraça.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Imaginário



Pulsa. Meu coração.
Corre. O tempo.
Páro e penso.
É pena, já passou...


Não quero morrer sem deixar nada.
Não quero partir deixando nada mais que meus medos, minhas incertezas e meus desejos não realizados.
Mas me pergunto: como e quando abandonarei de vez essa inércia?
Não encontro respostas.


A cada dia pareço desperdiçar meus sonhos, meu tempo, meus planos.
E parece que faço isso desacreditando. Sim.
Desacredito que sejam possíveis, que sejam viáveis.
Talvez porque pareça mais fácil assim.
As dúvidas, as únicas que jamais cessam.
Inventamos motivos, desculpas para nosso fracasso(?). As desistências. Inúmeras.
Haverá um dia em que nos daremos conta desse nosso auto-boicote e mudaremos isso? É possível fazer isso?
Será que estamos fadados a puxar nossos próprios tapetes?
Seria talvez o medo do incerto?
Medo de viver uma vida que seja diferente do vazio cotidiano, mas - ao menos em nosso imaginário - confortável, na qual assentamos nossos sonhos? Os mesmos que depois abandonaremos?
Não sei. Não sei se é possível saber. Ou se é possível tirar as vendas de meus olhos que me impedem de ver adiante.
Continuo aqui, sentada com um cigarro na mão. Imaginando que sim, que essa inoperância se transforme em ação, Ação consciente.
Mas aqui, sentada. Olhando minha fumaça. A mesma que imagino, levam meus sonhos e planos...






terça-feira, 29 de setembro de 2009

Uma carta de amor

Cansado após mais uma madrugada de trabalho, ele entra no quarto e sobre a cama encontra um envelope assinado por sua amada. Coça os olhos e se põe a ler o que seria uma carta de amor:
" Muitas vezes eu quero falar algo que não sai. E muitas vezes eu fico imaginando essas coisas acontecerem somente na minha cabeça. Na maior parte do tempo acredito que a minha vida só acontece na minha cabeça.
Sinto falta daquele tempo que tínhamos só para nós. Pra ficarmos sem se preocupar com o dia seguinte.
Sinto falta de não compartilhar tanta coisa com você e medo de não lembrar muita coisa que sempre penso em te contar.
Me preocupo se sou muito maçante e repetitiva e nada interessante. Se serei engraçada, enfim.
Às vezes, na cama, penso em milhares de coisas que não falei e tenho vontade de levantar ou ligar só para contar.
Mas muitas vezes isso fica na minha vontade. Odeio ter tantas manias, ser tão chata, reclamona etc, mas desconfio que se fosse diferente não seria eu, e você não mais me amaria.
Odeio também as suas manias, cada uma delas. Odeio seus "deslizes" e sua falta de atenção ao ler o que escrevo ou ouvir o que falo, mas me pergunto "alguém se manteria tão são se me lesse ou ouvisse sempre com atenção?". Talvez não... Mas não importa, é isso que os apaixonados fazem, não é?
Acho que eu deveria falar menos. Ou não, pois acho que você precisa ter com quem falar.
De qualquer maneira, muitas coisas permanecerão vivendo somente na minha cabeça.
Espero que você saiba que mesmo sendo como você é (...) eu te amo e sinto sua falta (menos quando quero ficar sozinha e você vem me atrapalhar) (...).
E saiba que somos uma dupla quase perfeita. Falta a você um pouco mais de grana, esperteza, paciência, ser uns 15 cm mais alto. A mim, falta tempo. De resto, sou surpreendente. (...). Eu morro de rir com a gente.
Acho que as coisas vão dar muito certo para nós. E acho que só de achar isso já vale a pena pagar para ver.
Amo você.
PS.: às vezes não te parece que escrevo coisas sem sentido???"
Olhando pela janela, ele balança a cabeça e ri... "às vezes, amor? às vezes?"

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Para ela

Sabe aquele olhar cativante? Aquele que só de ver você sabe que pertence a uma pessoa apaixonada? Pois é. Há alguns meses me deparei com um desses.
Foi numa sala de aula. Numa segunda-feira. Lá estava ela, com uma suavidade ao falar, um brilho intenso no olhar que fazia impossível não apreciar aquilo tudo.
Não cheguei a lhe dizer a importância que aquilo teve para mim, mas espero que em meu próprio olhar tenho sido possível perceber.
Aquela mulher, a cada semana, mesmo cansada e atarefada, demonstrava em seus gestos, suas palavras e naquele incrível brilho no olhar a sua paixão.
Paixão contagiante.
Não que fosse tudo um mar de rosas, como dizem por aí. Muito pelo contrário. Às vezes aqueles olhos traziam uma coisa estranha, um ar cinza, que eu não soube identificar como medo, tristeza, desesperança ou que quer que fosse...
Por maior que fosse sua própria paixão pelo que estava fazendo, algumas vezes seus olhos marejavam. Não porque o que fizesse não fosse por si só digno de prêmios, mas porque, embora em minha opinião aquilo de certa forma a alimentasse, faltava algo.
Faltava gente para apreciar aquilo tudo. Apreciar aquele brilho, aquela intensidade, aquele amor.
E muitas vezes, quando nos dedicamos para que outros sintam o que sentimos, a alegria, a satisfação que sentimos, mas parecemos invisíveis aos seus olhos, nosso próprio olhar é coberto - ainda que temporariamente - por uma nuvenzinha, de medo, de dúvida, de um quê que não sei bem como chamar.
E foi assim que encontrei aqueles olhos nas últimas segundas-feiras. Quase vazios. Vazios para aqueles que ao longo dos meses não aprenderam que aquela era apenas mais uma maneira de mostrar o amor que tinha (e tem).
Para mim, deixou imensas saudades. Imensas alegrias. E um crescente desejo de possuir o mesmo brilho no olhar.


Para Marlene, que não me ensinou apenas uma matéria, mas também uma nova forma de olhar.

Retorno

Muitas idéias, muita vontade.
Resolvi deixar de guardar tudo só na minha cabeça e ao menos anotar o principal num papel qualquer. Apenas para não correr o risco de esquecer de vez.
Cada vez que penso em registrar para não esquecer minhas idéias, lembro que não carrego papel e caneta na bolsa.... Talvez intencionalmente, pensando em deixar para lá. Esquecer de propósito.
Mas sempre voltam. As idéias sempre voltam. Querem sair. Precisam sair. Da minha cabeça, dos meus lábios em movimento porém silenciosos. Elas querem sair.
E assim passam os dias, meses e sempre enumero outras prioridades. Sempre intencionalmente. Sempre tentando acreditar que não houve tempo.
Até que sou vencida. É preciso escrever antes que sufoque. Que eu me sufoque. Que as palavras me sufoquem.
Ouço o som dos dedos no teclado.
O corpo sente o alívio, como aquele que sentimos após dividir um pesado segredo. A mente sossega, como o sossego depois de encontrar a solução de um terrível problema.
Liberdade.
Palavras livres amenizam a dor.
A dor da eterna prisão.

domingo, 31 de maio de 2009

(Con) Vivências


Último dia de maio, e até agora, tinha tido muitas idéias, mas pouca vontade de sentar para escrever. Enquanto preparava minha janta tive uma vontade imensa de falar sobre algo que sempre me perturbou, mas que hoje em dia tem me tirado do sério completamente: outros seres humanos.
Quando a gente mora com os nossos pais, aprendemos com eles os mais diversos hábitos, modos de arrumar ou desarrumar, o que, como e quando comer e assim por diante. De modo que por mais insuportável que seja a convivência com eles, tudo parece também nos pertencer.
Agora, uma experiência que põe à prova sua paciência é dividir o "seu" espaço com seres que não partilham com você esses hábitos cultivados desde a mais tenra infância.
Minha primeira experiência real nesse aspecto foi aos 20 anos quando saí de casa para morar numa república. Não bastasse o fato de ir morar numa cidade estranha, onde não conhecia ninguém, fui dividir a casa com outras pessoas. Pior, dividir o quarto com outra pessoa.
A regra de ouro para uma convivência menos irritante é ceder. Uma hora você abre mão disso ou daquilo em nome da paz, ou em nome do que quer que seja, desde que não se sinta mais tão deslocado. O problema é que, se você cede sozinho e sempre, não há boa vontade que possa impedir o desastre.
A despeito do carinho - na verdade do amor - que tenho pela ex-dona da minha primeira república, aquele período foi uma grande prova, que certamente me preparou para as piores que estavam por vir. Troca de república, morar com irmão mais novo, namorado... tudo isso me fez descobrir o quanto estabelecer minhas normas dentro de um ambiente que seja EXCLUSIVAMENTE meu, me é importante.
Olhando para esses 9 anos de vida longe das normas de meus pais, percebo que só fui plenamente feliz quando morei apenas com meus gatos. E olha que já tive experiências magníficas morando com outras pessoas.
Existe aquele momento, no meio da noite, por exemplo, em que uma xícara de chá e uma boa companhia que não precise dizer tchau numa determinada hora e que ao mesmo tempo você tenha alguma liberdade, é o que há de mais perfeito. Mas são momentos.
Eu pelo menos, embora possa ficar falando horas a fio sobre qualquer coisa, não penso que a presença de outro ser com quem eu me sinta à vontade seja imprescindível no meu dia a dia. Eu posso - e faço isso - contar tudo para meus filhotes, com a vantagem de não ser contrariada. (risos)

Olho para minha casa, que não considero minha, e penso em tudo o que eu poderia mudar, em como boa parte do stress que sofro seria minimizado caso eu não a dividisse com outras pessoas que partilham comigo apenas o fato de serem humanas - embora às vezes eu duvide disso.
Outro dia eu escrevia sobre meu etnocentrismo, porque me habituei a falar assim sobre minha imensa aversão à convivência com outras pessoas por tempo prolongado. Chego ao ponto de perder a fome, a vontade de falar, de respirar ao chegar em casa depois da aula e perceber que ainda há gente acordada, e por mais que eu adore o fim de semana, desejar que ele passe rápido, pois sei que no trabalho e na aula, não preciso dividir meu espaço com ninguém por mais que aquelas horas pré-estabelecidas.
Claro que se pode considerar meu relato uma forma exagerada de me referir ao inferno de dividir uma casa, mas sendo essa história a minha e existindo a impossibilidade de transferir a outros o abalo psicológico que a situação me causa, acredito estar quase sendo fiel ao que passo.
Entrando na crise dos trinta, minha rabugentice beira o extremo, e atribuo isso e tudo o mais que me irrita à falta de um espaço pra chamar de meu...
Quando eu voltar a reinar plenamente no meu espaço, precisarei de novas desculpas para justificar meu modo Nana - entenda-se chato - de ser. Até lá... são outras histórias.

domingo, 26 de abril de 2009

Outro dia

Tão cansada que não sabe mais se passa ou se sempre foi assim.
Seus dias demoram, parecem ter mais de 24 horas. Suas noites ao contrário parecem ser curtas demais, dando a impressão que nunca é possível descansar de verdade.
As horas de descanso parecem não mais existir. Todos os seus atos parecem movidos por uma mecanicidade surpreendente.
Amizades. Sente não tê-las mais.
Seu sorriso parece uma máscara. Não sente mais como se fosse o natural. As próprias lágrimas, que julga ser sua única forma de desabafo, parecem-lhe fugidias.
Há tempos atrás - que também parece ser tempo demais - tinha a impressão que não era assim.
Pega-se por vezes sorrindo para a parede em frente. Sabe, claro, que ouviu um comentário engraçado, mas sente que não lhe toca, nem o engraçado nem o trágico.
Como se todo o corpo tivesse entrado em um estado de torpor, não sente mais nada. Ou quase nada.
Sente essa agonia infinita, esse descontentamento com qualquer coisa que outrora parecia ter fim. Essa mesmice e a aparente impossibilidade de resolução de coisas simples.
Perde-se em devaneios. Perde-se em dúvidas.
Será que todos sentem assim?
Será que foi possível aprisionar-se em seus medos e dúvidas e ter esquecido a chave para fugir disso tudo?
Poderia talvez decidir mudar as coisas. Mas muitas vezes olha-se e decide que não há mesmo solução. Que tudo isso é enganação, que a verdade está atrás do falso sorriso que julga ter visto num rosto conhecido.
Suas certezas deixaram-na. Ou acredita, por vezes, que isso aconteceu.
Presa nesse mar infinito de escuridão duvida que esteja acordada. Abre seus pequenos olhos e acredita que é mais um pesadelo. Que logo irá passar.
E o súbito susto lhe pega quando reage da mesma maneira incompreensível. Violência, medo, raiva. O que seria isso?
Não sabe.
Fecha os olhos e pela face rolam quentes lágrimas que não sabe definir que sentimentos poderiam expressar, mas que ao fim parecem tirar de suas costas aquele peso invisível.
Seguirá mais um dia em busca de suas respostas. Talvez devesse olhar para outro lado, mas o que dizer a quem está cansada de ouvir? Se ao menos falasse, talvez encontrasse ajuda. Mas também está cansada de falar. E de ver, e sentir.
Quando o novo dia chegar, certamente fará propostas que no fundo já acredita não ser capaz de seguir, mas fará assim mesmo.
Afinal, ao nascer do sol, olhará pela janela e acreditará, por minutos que seja, que há possibilidades também para ela.

sábado, 18 de abril de 2009

Quem é dono do quê?

De longe não se pode imaginar, mas olhando um pouco mais de perto o resultado não é tão agradável. É assim que penso o começo deste texto.
Há alguns anos moradora de Maringá, passei boa parte deste tempo vivendo na região central, o que me fez "esquecer" de observar alguns detalhes que só agora, morando num bairro relativamente distante de tudo, é que tenho dado a devida atenção.
O que sempre me deixou "p" da vida aqui é a falta de acesso a uma centena de coisas. Lembro-me que minha mãe sempre levou a mim e a meu irmão mais novo a museus, teatros, shows, quando ainda morávamos em São Paulo, e ao estabelecer moradia em Maringá, achei que continuaria tendo acesso a tudo isso. Não que não exista isso por aqui, mas o que existe é limitado.
Em minha opinião o que há de melhor na cidade é o festival anual de música, onde se reúnem artistas de todo o país para mostrarem sua arte. Seria maravilhoso se o festival não acontecesse num lugar tão longe, e se por vezes não fosse necessário andar alguns quilômetros a pé para voltar de lá, pois o último ônibus de volta para a "civilização" sai de lá as 23:10h.
Em geral, o preço dos espetáculos são totalmente incompatíveis com a renda da maioria dos trabalhadores da cidade, assim como os horários, os locais e a falta de divulgação decente.
Agora que moro muito mais longe do centro da cidade - onde se tem um pouco mais de acesso ao que acontece por aqui - percebo uma série de problemas no pensamento das pessoas que acabam ampliando a "exclusão" dos bairros.
Buscando um filme* no último fim de semana, ouvi tantas desculpas para a falta dele, e até o total desconhecimento do mesmo que foi impossível deixar passar em branco.
O dono de uma locadora me disse que nos bairros as pessoas não locam filmes que não falem sobre violência e sexo. "Filme inteligente em bairro não pega. Eu até gostaria de ter outras coisas, mas bairro é assim". Essa foi a bela frase.
E realmente, procurar filmes que saiam da ótica hollywoodiana, os ditos filmes Cult tem sido uma árdua tarefa.
Olhando de longe e sob uma ótica parecida com a do dono da locadora poderíamos ver um amontoado de gente morando em lugares teoricamente mais barato, e não obstante excluídos do centro (cultural, educacional, social) da cidade, seriam considerados um bando de gente burra, que não gosta de pensar, que não quer pensar, que não sabe pensar. (O triste é que esse pensamento reducionista/etnocêntrico não é característica do dono da locadora do bairro. Ao contrário, está presente em inúmeros comerciantes que mantém estabelecimentos no local, bem como por pessoas que residem, comercializam, estudam etc no centro.)
Olhando com um pouco mais de cuidado (de perto) poderíamos sugerir que esses filmes - por exemplo - não são procurados simplesmente porque ao residir num bairro mais distante, as pessoas, em geral, são automaticamente excluídas de uma série de informações, como o da existência de tal ou qual filme, livro, evento...
O não acesso à informação, à educação, a permanente idéia de que essas pessoas não entenderiam coisas assim, cria um círculo vicioso de negação do acesso e de comodismo por quem não obtém a informação. Uns defendem que certas pessoas não entenderam isso ou aquilo, outros acreditam que não entenderão mesmo e, portanto, não buscam tal informação
Com relação ao filme, se ele estivesse disponível para ser visto, para se ler o conteúdo e então decidir se leva ou não, talvez a idéia de que "bairrista não pensa" fosse diferente. Ao negar o acesso a inúmeros dados quem os detém escolhe pelo outro o que este tem direito ou não de saber, de gostar, de querer.
É a velha luta pela posse do conhecimento.
E enquanto se acreditar que "sempre foi assim mesmo", que "não acho que posso ter entendimento", que "isso é coisa de universitário", que "não vi porque é coisa de estudante/ intelectual/ rico" não haverá grandes mudanças. Seremos ainda meio dúzia de gatos pingados brigando com o dono da locadora por este ou aquele filme, que ele inclusive acha que não vamos gostar/ entender, afinal moramos em bairro...
*O filme procurado era 'Quando Nietzsche chorou' baseado no romance homônimo de Irvin D. Yalom e só foi localizado em uma única locadora no centro de Maringá.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Sobre o tempo.


Outro dia ouvi uma discussão sobre o ócio produtivo. O que me deixou indignada a ponto de ousar dar a minha opinião, é que o defensor da não existência de qualquer produção nesse período chamado ócio, não faz outra coisa da vida além de estudar. Pois bem, disse eu, antes de voltar a trabalhar eu tinha tempo para sentar e escrever, para ler - na verdade, devorar meus livros - para brincar com meus gatos, para fazer tantas coisas que hoje, somente de pensar nelas, já me sinto cansada.
A conversa em si não foi interessante, o indivíduo não aceita qualquer argumentação, e eu simplesmente prefiro me ausentar a gastar minha saliva com discussões como essa. Afinal, eu termino sempre achando que, ou as pessoas são estúpidas demais e não valem meu tempo, ou que eu estou complemente louca.
Nenhuma das duas alternativas tem um quê de bom, mas é assim que acabo pensando. E esse pensamento me leva a muitos outros, como sobre o meu egoísmo e meu etnocentrismo. Mas isso ficará para um outro feriado, quando eu puder exercitar o ócio produtivo.
A questão de hoje é essa vida cretina que alguns de nós levamos, ou pela qual nos deixamos levar.
Sempre defendi que era muito possível estudar e trabalhar. Até porque desde que comecei a trabalhar não deixei de estudar. Mas quando fiquei sem trabalhar pude perceber a imensa diferença - ao menos para mim - na produção.
Eu lia tantos livros e tinha tanta vontade de escrever que fiquei verdadeiramente maravilhada.
Há pouco mais de um mês voltei a trabalhar. E junto com o trabalho recomeçaram as aulas na universidade. Não que eu tenha deixado de ler etc. Consigo dar conta de tudo como sempre, mas percebo uma mudança drástica no ritmo. Os milhões de livros reduziram-se aos poucos textos das aulas, os textos agora são escritos em dias como hoje: feriado em que estou em casa.
Qualquer tempo livre que tenho me parece uma oportunidade única de descansar e não de usar para as coisas que me deixam livre, feliz.
Outro dia me dei conta que não cantava mais a não ser no caminho de ida e volta do trabalho, onde mexo os lábios no ponto de ônibus. Não escrevia mais, porque me sinto tão cansada que sair da cama e sentar para escrever parecia um sacrifício desnecessário. Livros? Acumulam-se.
Me dei uma noite pra cantar e acordei exausta no dia seguinte pensando: "se não tivesse feito isso, teria dormido cedo e, portanto, não estaria tão cansada". Isso é horrível.
Uso meu horário de almoço pra ler e discutir coisas legais sobre as aulas. Uso meus fins de semana pra reler algo ou para não acumular nada para a semana que vai começar.
A discussão de outro dia me fez ver o quanto o ócio é produtivo. O quanto eu produzo se não trabalho.
A verdade é que nunca gostei de trabalhar. Me mato o mês todo pra receber uma porcaria de salário que serve pra pagar as contas, e olhe lá. Não me sinto nem um pouco mais útil, feliz, ou realizada com isso, ao contrário de muitas pessoas que conheço. E percebi que a questão não era o trabalho que eu tinha, era e sou eu.
O que me dá vida é o que está em outro lugar, que até hoje não me deu dinheiro, mas é algo que dinheiro nenhum do mundo pode me dar: satisfação.
É com imensa felicidade que inicio e termino um livro, que escrevo um texto, que não durmo para discutir política, religião, gênero, conhecimento, vida...
Então, depois de falar e falar e falar, penso se tudo isso não é culpa de minha má administração do meu tempo. Se não é minha imensa repulsa pelo universo do trabalho que me causa essa infinita desordem. E minha conclusão é a mesma desde o primeiro dia de trabalho: não nasci pra essa vida!
Não quero acordar cedo pra ganhar dinheiro pra alguém. Não quero acordar cedo porque essa é minha obrigação. Não seguir essas regras. Quero fazer meu tempo, quero administrar meu dia de forma que ele se torne uma coisa que me dê prazer, que me deixe efetivamente contente, e onde eu consiga ver algum resultado, ainda que seja exclusivamente para mim. E isso, para mim, parece incompatível com o fato de eu trabalhar.
Meu tempo. Esse tempo que pede mais do que tem. Pode ser que amanhã eu olhe e pense que eu só estava numa fase besta da vida, mas confesso que há pelo menos dez anos espero por esse dia, e a única coisa que muda é o tempo: um pouco mais velha, um pouco mais tarde. Um ponteiro.
O desejo de pular fora dessa roda nunca mudou. O desejo de estudar - formal e informalmente - o dia todo, a semana toda, o mês todo, a vida toda, continua. E olha que estudar dá um baita trabalho. O cansaço resultante deste trabalho não passa com uma boa noite de sono, não passa no feriadão, no fim de semana. Bem como as alegrias produzidas por ele, que também não passam...
E, ao fim de cada mês, o resultado dele não se vai nos balcões de pagamento.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Que dia é esse?

Acordo às cinco horas da manhã, e, de segunda à sexta-feira, enfrento mais de uma hora em dois ônibus lotados, por um trânsito infernal, rumo ao meu trabalho.
Às segundas e quintas, após o expediente que encerra às dezessete horas e quarenta e oito minutos, depois de enfrentar cerca de uma hora de ônibus, novamente pelo trânsito caótico, enfrento as quatro horas de aula na universidade, de onde saio às vinte e duas horas e quarenta e cinco minutos - pouco antes de terminar efetivamente o horário de aula - para pegar o ônibus que me levará então para casa, onde devo chegar por volta da meia-noite e vinte.
Preciso encontrar tempo para limpar a casa, dar banho nos gatos, lavar a roupa, manter unhas, cabelo e pele lindos porque, embora não seja mais publicado em anúncios de emprego, a boa aparência é o que pesa quando você procura uma vaga no mercado de trabalho e, embora tenha terceiro grau completo, é encaminhada para ser recepcionista; você tem um belo sorriso, seus olhos são muito expressivos, que corpo bonito. Essas são as qualidades da recepcionista, que claro, precisa ter uma boa - não ótima - digitação e saber ao menos usar o corretor ortográfico. Precisa saber que a empresa não tem coração e que seu salário embora seja pouco maior que o salário mínimo, é tido como mais do que necessário, afinal você só está ali sentada, sorrindo e fingindo que seus problemas não existem, que suas contas não venceram, que sua casa não precisa de limpeza, que seus filhos não sentem saudades, que seu parceiro(a) não precisa de seu colo.
Aí, chega o bendito dia. Você recebe uma centena de e-mails, recheados de belas palavras, de muita poesia, com dados chocantes, com imagens que se fixam em sua mente. No fim do expediente sua caixa de entrada está lotada. Ninguém fala mais com você. Apenas te fazem ler. O teu chefe, que disse há poucos minutos que a empresa não tem coração, te manda um e-mail dizendo que as mulheres são o coração da empresa. No fim das contas, com um pouco de esforço, faz-se a pequena associação: eu não sou nada aqui dentro.
Vai para casa, tenta chegar com os olhos abertos, fazer o que precisa, lavar uniforme, corrigir a droga do esmalte que estragou quando foi empurrada no ônibus. Passar a roupa para o dia seguinte, e quase morta, tomar um banho, escovar os dentes e, literalmente, desmaiar.
Esses são meus dias. Meus dias de mulher, dia que milhões de mulheres conhecem e vivem da mesma maneira, ou pior.
Os dados estão aí, violência, física e psicológica, dentro e fora de casa, estranhos ou amados, morte precoce, por qualquer coisa que antes matava muito pouco e muito tarde, estresse, ódio, envelhecimento, tumores, rugas, busca incansável por uma beleza mentirosa, mas que é a que a sociedade diz ser a melhor, dietas malucas, desmaios por conta disso, anti-depressivos, soníferos, estimuladores de humor. Acabamos todas diagnosticadas bipolar. Seria engraçado se não fosse tão triste.
Minha ex-ginecologista me indicou o uso de DIU mesmo sabendo que eu tinha um mioma no útero. Era uma mulher. Cansada, irritada, pensando nos filhos, na casa, no parceiro, na profissão talvez. E cometeu um grande erro.
E quantos erros são cometidos da mesma maneira? Quantas mulheres queimam a comida, esquecem os filhos na escola, faltam a reuniões, aulas, mandam e-mail certos para as pessoas erradas, etc? E porque?
Não tenho as respostas, nada é conclusivo, e as pessoas não são todas iguais. Estamos em constante mudança, e o que é para mim pode não ser para você, mas é bom para se pensar, não é mesmo?
Meu dia de mulher, é todo dia. É de segunda a sexta, quando abro os olhos ao som do despertador, que me lembra que preciso tomar banho, passar a maquiagem, creme, perfume, vestir o uniforme, tomar café, escovar os dentes, verificar se os gatos tem comida e água, correr pro ponto de ônibus; pegar outro ônibus, descer numa rodovia perigosa, comer bolachas na minha uma hora de almoço como quase única alternativa de comida, sonhar com o horário de sair, conseguir, apesar disso, realizar o trabalho de maneira exemplar, voltar pra casa e manter o bom humor, a esperança. Meu dia de mulher é todo sábado e domingo, quando entre todos os afazeres, encontro tempo para cuidar de mim, para ler, para encontrar meus amigos, mesmo que seja pelo msn, para saber o que aconteceu durante a semana, para descansar, para me preparar para meus dias de mulher durante a semana.
E, por fim, no dia 08/03 receber alguma coisa que me lembre que alguém lutou para que eu acreditasse que teria plenamente uma coisa: Dignidade.

domingo, 1 de março de 2009

Quem é Jesus?

Primeiro a pergunta: fé se discute?
Eu fui criada numa família católica, e meu pai dizia que a independência do católico era a crisma. Quando fui crismada aos 15 anos, decidi abandonar a igreja proclamando minha independência religiosa. Óbvio que é uma briga sem fim até hoje com meu pai. Quando resolvi estudar o islamismo e passei a frequentar a mesquita, meu pai disse que eu tinha ido para o "lado mau". Depois, resolvi ficar em casa e levar minhas conversas com deus, deuses, divindades etc ao extremo particular.
Então resolvi ser gnóstica. Acabei virando uma gnóstica particular, aqui na paz das minhas 4 paredes, como também ainda sou muçulmana e católica, e atéia, e umbandista, bruxa e pagã.
O problema esbarrava sempre nas minhas oposições a algumas normas inventadas pelos homens, creio eu, ou numa frase que ouvi ha muito tempo atrás: " Jesus não mora nas casas de pedra, madeira... mora dentro do coração de cada um". Não me lembro de quem ouvi isso, mas agradeço essa frase.
A questão é, muito se fala desse homem que foi Jesus, e eu adoro estudar religiões. Fico pensando em quem terá sido mesmo ele, e se os tantos concílios do vaticano transformaram ele num ser extraordinário para manter o povo sempre com medo e consequentemente "controlado". Afinal, faz tempo já que não sei de alguém, independente da religião que tenha, caso tenha, que siga os passos desse homem ai, como se manda.
O último livro que li foi "O evangelho segundo Jesus Cristo" de José Saramago, e cada linha, cada discussão, cada comentário detalhado etc, me fazia pensar que aquilo parecia com um Jesus, um humano de verdade, que talvez tenha se irritado com umas coisas e dito o que pensava, e morto talvez, vai saber.
Todo mundo fala dele, bem ou mal, com mais ou menos certeza, pregando ou apenas citando sua existência, e claro, há os que falam dele para fingir que não sabem que ele existiu - será mesmo que existiu???
E é isso que deve alimentar as coisas. Essa eterna dúvida. Se ele existiu vai voltar porque o apocalipse deixa isso claro, e vai nos punir, se não existiu o que é que vai ser de nós?
Eu não sei se ele existiu como dizem por ai, nem se teve tanta glória e popularidade, nem se estaria feliz com o que vê hoje caso tenha realmente pregado o que pregou, mas sei que a história que ficou é muito boa, e basta que paremos um tempinho para pensar a respeito que as idéias pulam feito pulgas, instigadas por perguntas e respostas que talvez nem o tempo possa nos dar, afinal quem sabe quanto tempo teremos ainda para descobrir???

Comentaristas

Que uma das minhas paixões é escrever metade do mundo - pelo menos do meu mundo - já está ciente. Mas o que acontece depois da postagam poucas pessoas sabem, se é que fora eu, alguém já saiba.
No princípio pensei, bom mesmo que ninguém leia, eu tô fazendo uma coisa que gosto; mas não era bem a verdade. Deve ser como ter um filho que ninguém nunca diz que é bonito ou inteligente ou qualquer coisa que agrade à mãe. Aprendi isso quando escrevi meu primeiro livro, lá na distante 1ª série, em 1988, aos sete anos. Chamava-se "Fofo, o pintinho".
Como o cérebro guarda certas coisas e outras descarta ainda é minha grande dúvida, até porque não tenho muita paciência para esse tipo de pesquisa, correr atrás das últimas novidades científicas e tal, talvez por isso não tenha tido vontade de ser jornalista: minha curiosidade é muito "limitada". Usarei limitada para não ficar me estendendo sobre o que não é o assunto deste post. O que importa é que a professora mandou escrever um livro e todos escrevemos, cada um o seu. Na hora de entegar o trabalho meu medo era: " será que vou ganhar uma estrela?" Porque naquela época o legal era ter uma estrela de papel brilhante recebida pelo bom trabalho, pelo caderno bem cuidado etc.
Quero dizer que desde essa época, meus textos, trabalhos, seminários, monografia etc, são como meus filhos, que eu gostaria que alguém dissesse alguma coisa sobre ele - boa de preferência - mesmo sendo uma represália, mas que me fizesse ver a coisa por outro lado, como a professora que diz:"teu filho tem piolho" e que te leva a cuidar da cabeça do pestiadinho, com todo amor e carinho e uma pitada de culpa por não ter notado antes.
Então, passaram-se os anos, e mais que escrever para meus amigos no msn e depois salvar as conversas porque via ali base para textos que eu sonhava escrever, mais do que meus cadernos de desabafo onde eu punha minhas agonias e minha felicidades e que eu também julgava poder melhorá-las para transformar em textos de verdade, eu resolvi escrever no meu blog.
Lá no começo eu percebi que aquele pensamento de que era só para mim e o que viesse era lucro - e que já disse não era tão verdade - era uma realidade. Aparentemente a única pessoa que sabia que ele existia era eu. Perdida no meu mundo de letras, teclas, canetas e madrugadas que sempre julgo criativas, esperava qualquer comentário sobre "meus filhos". Um dia veio um comentário. Que lindo. Não dizia que era lindo, não dizia que era perfeito. Dizia o que o comentarista pensava, o que acreditava, independente do que eu havia escrito. E eu aprendi que saber que existem essas pessoas que têm esse trabalho, de ler, de comentar, de se expressar são a riqueza recebida pelo trabalho. São por elas que vale à pena escrever.
Então, meus sinceros agradecimentos a meus comentaristas que enriquecem minhas idéias e me deixam com vontade de dizer: "peraí, como assim???? posso me explicar?" hahahhahahaha.
Escrever, ainda que para uma única pessoa comentar, para que essa única pessoa escreva uma única linha... não há palavras para explicar.
Quanto à arvore? Continua me olhando pela janela, mas não me inspirou como os que comentaram aqui...



segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

As explicações



Pensei em "censurar" algumas partes do texto abaixo, mas acho injusto comigo e com tudo o que eu disse.
A primeira pessoa a quem sempre mostro meus textos se mostrou imensamente insatisfeita com minha realidade, não importando se ela á a minha realidade ou a realidade do mundo. Afinal de contas isso só interessa a mim. Ninguém quer realmente saber se tudo se passa na minha cabeça, no meu coração ou se não existe simplesmente.
Todo mundo espera que você sorria sempre, que adore viver, que ame incondicionalmente quem está ao seu lado.
Não sei ao certo que explicações dar e nem se elas são necessárias. Acredito piamente que as pessoas que realmente me conhecem sabem do que eu falo, sabem o que eu sinto e sabem porque escrevo.
É impossível descrever esse misto de sentimentos que toma conta de mim em qualquer momento do dia, e mais difícil ainda explicar como todos eles se confundem e como mudam a cada 5 segundos.
São 09:57 horas de uma segunda feira que começou, como dizemos, com o pé esquerdo. Não sei se quero "corrigir" nada.
Gostaria apenas de dizer que as verdades são muitas, e mudam, porque nada é fixo e eterno. Talvez a imagem que façam de nós, por um erro cometido ou por uma coisa linda que fizemos uma única vez na vida, é que perdure na cabeça das pessoas eternamente. Se você errou meu caro, as pessoas se lembrarão disso pra sempre. Se você acertou, lembrarão uns poucos dias, meses talvez, mas suas vitórias entrarão para sua prateleira particular e provavelmente só você terá acesso a elas.
O que eu tento dizer é que não estou escrevendo meu diário, escrevo e reescrevo, mudo de idéias após escrever e nada fica eternamente aqui.
Não posso agradar a todos, nem posso ser tão imprudente e dizer que minha vida é um poço de felicidade quando não é. E porquê? Porque eu não mudo nada. Porque eu continuo sentada no meu egoismo já citado esperando os dias passarem, esperando que as pessoas possam ler as entrelinhas, que saibam distinguir uma coisa da outra: a que escreve e a que vive; a que anda pelas ruas, que conversa com as pessoas, que dá risada e que sente imenso prazer em fazer as pessoas rirem. A pessoa que defende o que pensa, e o que os outros pensam. A pessoa que mesmo que não concorde, acredita que o outro tem pleno direito de se manifestar da maneira que achar que deve, que acredita que é.
A foto? Ah... bem, eu choro. Choro porque apenas eu me compreendo. Porque as pessoas fingem que te entendem com um propósito que ainda não descobri. Algumas por medo das loucuras que julgam que você é realmente capaz de fazer, outras porque acreditam que essa é sua missão: entender o próximo não entendendo a si mesmo. Quem sabe ao certo porque fazem isso?
Verdades? Elas não existem, ou melhor existem tantas que você pode escolher a que quer usar agora, a que te serve melhor no trabalho, na escola, em casa ou diante do espelho, cara a cara com você.
Quanto à mim? Escreverei sobre as árvores. Deve afinal haver um certo consenso no tocante de que elas são necessárias.
O que resta? Se alguém precisar, desculpe por ser direta demais ou totalmente indireta. Sincera demais ou muito presa ao mundo que criei, e que muito provavelmente só eu entendo e acredito que exista.
De resto? De resto eu continuo aqui. Fazendo o que sempre fiz: lutar para que alguma coisa pareça certa, para que nem tudo pareça a merda que às vezes parece ser. E tentando acreditar que todo mundo é diferente de mim.
O que é escrito fica, o que é sentido passa. O que é dito? Nada.
O que fazer? Acreditar, talvez. E guardar minhas mémorias num caderninho que é mais seguro.
O blog? Ah... o blog irrita muita gente. Falaremos da natureza...

As minhas descobertas

Nasci numa segunda feira paulistana em 12/01/1981. Tive uma infância bacana, vivia brincando com meus irmãos mais velhos, filhos do primeiro casamento de meu pai, e apesar do ciúmes, também brinquei muito com meu irmão mais novo.
Carreguei inúmeras dúvidas sobre o amor de meus pais por mim. Costumo brincar quando minha mãe diz que meu pai chorou quando nasci, dizendo que ele fez isso porque sabia que teria mais uma boca para alimentar.
Quanto à minha mãe, como ela sempre falava mal de minha avó materna e me dizia que eu parecia muito com ela, julgava que ela não gostava de mim, justamente porque também não gostava da própria mãe. Mas isso tudo já passou.
Saí de São Paulo aos 8 anos e fomos morar em Terra Roxa depois que meus pais se separaram. Depois que fizeram as pazes nos mudamos para uma cidade que parecia ter saído dos filmes de velho oeste: Cruzeiro do Oeste, também no Paraná. Lá passei minha adolescência, que apesar de não ter sido ruim, também não julgo boa.
Fiz muitas coisas maravilhosas que me ajudaram a ser quem sou hoje, mas nem tudo é cor de rosa.
Experimentei de tudo um pouco: drogas, sexo, ódio, medo, solidão, culpa, loucura, tentativa de suicídio.
Um dia decidi que não queria ser como as meninas que eu conhecia, queria ser eu mesma e só. Queria ser única, se é que nesse mundo tão gigante é possível ser plenamente único.
Resolvi fazer faculdade e sair de casa. Já tinha 20 anos mas era uma menina - apesar de tudo - mimada.
Chorei todas as lágrimas que julgava ter. Pensei em desistir de tudo e virar hippie, como se isso fosse fácil. Consultei várias religiões e ao fim chegava à mesma conclusão: se Deus não morar em mim não vou encontrá-lo em lugar nenhum.
Descobri que ler, escrever e dançar são as coisas que mais me dão prazer. Descobri que estar sozinha com meus gatos era a felicidade. Descobri que é possível amar muito, por muito tempo ou por pouco tempo sem que com isso deixe de ser amor. Descobri que é possível amar todo mundo de uma vez. Descobri que odeio as pessoas em geral. E o mais doloroso, que as amo ao mesmo tempo.
Descobri que sou extremamente egoísta e que nada que não seja minha vontade me importa de verdade. Que minha família é muito importante, mas que vivo bem longe dela. Descobri que dá pra chorar sem que percebam, que dá pra negar que se ama, que se odeia, que não gosta disso ou daquilo, e que as pessoas nem vão perceber.
Descobri que no fim das contas eu gosto de ser eu, fora de forma, descabelada, falando palavrões, bebendo e fumando. Descobri que adoro tirar fotos e que elas guardam aquilo que não me permito ter: as pessoas e coisas que amo.
Descobri que minhas palavras ferem mais que facas, e que muitas vezes não sinto remorso, ás vezes até gosto desse "poder". Descobri que ser cruel faz parte de mim, e descobri que posso matar qualquer pessoa que se atreva a magoar as pessoas que me cercam, mas principalmente as que fizerem mal aos meus gatos. Descobri que algumas pessoas tem medo de mim, que outras me odeiam e que outras, sabendo quem e como sou, me amam.
Descobri que o sexo ocasional é mais adequado para mim que o de um relacionamento, porque não faço questão nenhuma de manter um relacionamento. Foi assim que descobri que amo de vez em quando.
Descobri que só sei ser eu no mundo que eu criei, e que ao "entrar" na vida real automaticamente não sou mais eu.
Descobri que posso me enganar. Que posso enganar qualquer um. Descobri que meus olhos não mentem quando a boca o faz. Descobri que sou capaz de muita coisa e que ainda assim prefiro ficar sentada a me mover. Descobri que isso me dá imensa raiva. Descobri que o ódio diário que sinto me torna mais criativa, e estranhamente me cansa, me fazendo ter idéias de como alcançar a paz em todo e qualquer sentido, para mim e para todos.
Descobri que a paz que eu busco por aí, está em mim, mas não sei por onde começar a procurar, porque descobri que tudo o que fiz, todas as escolhas, todas as renúncias, os aceites, as mudanças e os retornos, deixaram uma infinita bagunça que eu não quero ter tempo para organizar.
Descobri que somos senhores do tempo, e que eu não faço nada com o que descubro.
Descobri também que tenho medo. Medo de mim, medo das pessoas, das palavras ditas ou não, das coisas que não conheço, e das que conheço. Descobri que todo dia eu sou uma pessoa, e que dependendo da ocasião, do lugar e de com quem estou eu posso ser outra, ou outras.
Descobri que ainda que não veja perfeição em nada, amo tudo que é imperfeito. Descobri que é possível perdoar sem esquecer. Que é possível magoar quando não se quer, e que as pessoas vão te amar mesmo assim. E descobri no meio de todo o meu egoísmo que tudo o que eu escrevi soa como um desabafo e que tenho uma enorme vontade de ligar ou escrever para todos os que passaram pela minha vida, para todos que fazem ou fizeram quem eu sou, e pedir-lhes desculpas. Desculpas por não ter me esforçado mais, por não ligar mais, por não dizer o quanto são importantes para mim e o quanto eu os amo. Porque há 11 anos descobri que não fazer isso é fatal, e que você pode não ter outra chance de dizer essas coisas. E descobri que sou incapaz de fazê-lo senão aqui. Porque antes de tudo isso, descobri que sou orgulhosa demais para admitir meus erros, medrosa demais para tentar corrigi-los e egoísta demais para sair de meu lugar ao sol.

Jorge

A genética é uma coisa de louco!
Não conheci nem os pais da Pandora e nem os do Boris. Quando a primeira ninhada chegou no dia 13/09/2004, a felicidade só não me matou porque eu precisava cuidar da nova família.
Por muito tempo Pandora e Boris não tiveram vontade de ter filhos e eu é que ficava desesperada pensando que não veria os bebezinhos correndo pela casa!
Então, nasceram 5 filhotes. Quatro brancos como os pais e um preto, o Jorge.
Como ele não fica bravo quando conto a história dele, vou contar aqui. Minha amiga Gi estava em casa e é minha testemunha.
Assim que acordei vi a ninhada com a Pandora dentro de uma caixa já preparada para isso. Mas logo que levantei, a Pandora pulou da caixa para ir comer - ela foi uma mãe ultra relapsa - e algo que estava grudado nela caiu. Minha cara foi como que "oh que horror!!!!". Pensei que fosse algum resto de placenta ou sei lá o quê. Quando me aproximei vi que era um filhote. Um filhote totalmente diferente dos outros. Um filhote preto.
Peguei-o com todo cuidado e cheia de remorso e coloquei-o dentro da caixa com os outros.
Eles foram crescendo e Boris e eu tínhamos uma luta e tanto. Pandora detestava os filhotes e só ficava na caixa quando eu a colocava e a segurava para que os bebês pudessem mamar. Ela não atendia nem aos mais desesperados chamados de seus filhos. Boris ficava na caixa com os filhotes, ficava lambendo eles e aquecendo seus pequeninos corpos.
Um dia, eu sabia, teria que dá-los. Procurei entre meus amigos pessoas de confiança e que eu sabia que amava os gatos para poder entregá-los. Na verdade eu só me convenci que teria que dá-los quando minha mãe me questionou "como você vai cuidar de 7 gatos nessa kit net?". Eu sabia que era crueldade.
As meninas da faculdade e do trabalho iam visitar os filhotes e foram escolhendo os seus. Ninguém queria o Jorge. Ninguém o achava bonito, ninguém perguntava nada dele. Todos queriam as bolinhas de algodão que eram cópias dos pais.
Morri de raiva, porque ele sempre foi lindo e carinhoso. E decidi, esse fica comigo pra sempre, pra receber o amor que merece e crescer com seus pais. E assim foi. Ele crescia e sua pelagem clareou um pouco, deixando-o cinza. Sempre foi gordinho e enorme, é o maior dos três.
Nunca morde ninguém, e "sofre" com o amor incansável de Boris que o deixa com penteados horríveis depois de lambê-lo. Às vezes sofre com a indiferença da Pandora, mas só uma coisa o fez mudar.
Certa vez ele fugiu de uma casa onde eu estava morando. Até esse dia ele era tão carinhoso e carente como Boris, vivia no colo e adorava se exibir para as visitas.
Fui trabalhar e a janela do banheiro ficou aberta. Quando cheguei notei que o Jorge não aparecia nunca e depois de revirar a casa atrás dele, me dei conta de que ele tinha fugido pela janela do banheiro. Saí para procurá-lo na vizinhança, batendo de porta em porta, chorando loucamente. O que fariam ao meu bebê indefeso? Onde ele estaria? O que teria acontecido? Teria sido atropelado? Como eu pude ser tão estúpida e deixar a janela aberta? Tudo parecia um pesadelo. Ligava pra minha mãe de 5 em 5 minutos chorando.
Dentro de casa, Boris estava nervoso e miava como se pensasse o mesmo que eu.
Sentada na calçada, desolada e quase sem esperanças, ouço um miado estranho. Surge um gatinho rajado. Era um dos que eu alimentava no quintal. Chamei-o para ver se ele poderia me consolar um pouco.
Ele se aproximou e logo atrás dele estava meu negão. Com os olhos mais assustados que já vi. Correu para perto de mim e eu o abracei forte. Estava sujo e cheio de espinhos do mato grudado na pelagem. Meu coração não sabia se parava, se saltava pela boca, se explodia de emoção.
Eu, certamente fui o show da vizinhança: chorava e soluçava abraçada ao meu gato.
Entramos em casa, ele levou uma boa bronca por tentar me matar. Mas isso só depois de eu me certificar que ele estava bem. Dei-lhe um banho, penteei seus cabelinhos e ficamos grudados a noite toda.
Depois disso, ele nunca mais foi o mesmo. Morre de medo de qualquer coisa, se esconde debaixo das cobertas se ouve passos estranhos, treme e ás vezes faz xixi de tanto medo.
Eu nunca soube o que aconteceu, mas nunca mais deixei a janela do banheiro aberta.
Hoje ele é a coisa mais fofa do mundo, enorme - continua medroso - macio, carinhoso, mimado, e notívago. Isso mesmo. Jorge passa o dia escondido debaixo da cama ou dentro de armários, onde quer que ele possa se enfiar, e quando a noite chega ele aparece lindo para solicitar sua cota de carinho e atenção.
E sabe aquelas pessoas que o rejeitaram??? Bem... elas morrem de inveja quando o veêm: "nossa, como ele ficou lindo!".
Sinto muito, ele sempre foi lindo, e tire os olhos que ele é meu. Meu negão.

Pandora



Bom, eu escrevi há alguns dias sobre meu gato mais velho, o Boris, e comentei que iria escrever sobre todos, por eis que chegou o momento de falar sobre a esposa dele, a geniosa Pandora. Pela cara dela já da pra imaginar a ferinha né?
Vamos então pelo começo.
Eu morava em um conjunto residencial e só tinha o Boris. Mais de 2500 habitantes no conjunto. O Boris nessa época, por ser o único, ia comigo pra cima e pra baixo, sempre no colo como um bebê - que realmente ele é.
Um belo dia, estava voltando de mais um passeio com ele e fui parada por uma senhora que parecia mais uma louca. Me fez todas as perguntas possíveis sobre os cuidados dados ao meu filhote e se eu amava muito os felinos etc.
Passado esse ocorrido, tudo ia muito bem, arrumei um emprego integral - anteriormente trabalhava meio período e depois ia para a universidade.
Meus vizinhos mais próximos quando me encontrava no corredor reclamavam que o meu gato miava demais. Óbvio que eu tinha notado que depois que comecei a trabalhar em tempo integral o comportamento dele mudou. Estava tristinho e infinitamente carente.
Numa noite, voltando da universidade, o porteiro me parou e disse: "a mulher do bloco D quer falar com você." "Comigo?" "É. É sobre o seu gato." E eu meio louca pensei... meu Deus... como é que ela ouve o miado dele se eu moro no bloco O???
Resolvi falar com a tal mulher. Dei de cara com a doida do outro dia, a do interrogatório. Ela disse que tinha uma gata peluda e branquinha como o Boris e que queria me dar porque - essas palavras são minhas - o imbecil do marido dela batia na gata, chutava ela etc.
Meu queixo foi ao chão. Porque alguém pega um animal pra fazer esse tipo de coisa??? Mas não disse nem sim e nem não na hora. Voltei pra casa. Sabia, no fundo, que eu ia pegar a gata. Não tinha jeito, como eu poderia viver se deixasse ela lá, sofrendo? Ao mesmo tempo me preocupava com os gastos.
No dia seguinte voltei à casa da mulher e disse que levaria a gata comigo. Ela me disse que o nome dela era Pandora. Era gordinha e tinha 6 meses. Saí de lá e levei-a à veterinária que cuidava do Boris. Ela tomou um belo banho, vacinas e anticoncepcionais, porque em função da minha situação o que eu não poderia ter era uma ninhada!
Pandora voltou pra casa e o ciúme foi o primeiro sentimento que recebeu do Boris, que a impedia de chegar até o prato de comida. Aliás, ele sentou na entrada do corredor e só no dia seguinte deixou ela passar livremente sem precisar de minha intervenção. E foi aí que começou um amor.
Boris e Pandora passaram a fazer todas as bagunças do mundo. Derrubavam tudo o que estava na frente e corriam feito loucos, felizes da vida. Boris parou de chorar e os vizinhos de reclamar.
Nos primeiros dias era preciso carregá-la e segurá-la na cama pra que ela entendesse que na minha casa ela podia fazer qualquer coisa que não sofreria maus tratos.
Ela abusa um pouco da gente, chega perto do Boris, recebe as lambidas de carinho e quando acha que já foi suficiente, bate nele, que não reclama. Pede meus carinhos e se acha que não está de seu gosto me morde. E se por acaso eu encho os pratos calmamente, ela grita como se dissesse "escuta aqui sua lesma, isso é pra hoje!!!" É toda durona, e metidinha. Ninguém a faz ficar com uma cara de bebê. Não. Ela é a rainha do lar. Tem plena consciência disso. Impõe as regras e todos obedecem, a começar pelo marido.
Adora ser penteada, elogiada, e morre de ciúmes de qualquer gato que se aproxime do Boris.
Lembro-me de um dia em que morava numa casa, e deixei-os passear um pouco - e com supervisão - e o Boris conheceu um gato da rua e logo foi fazer amizade cheirando e beijando o novo amigo, assim que a Pandora viu saiu furiosa e botou o estranho pra correr.
Ela está sempre séria, e as coisas mais legais que ela costuma fazer é de manhã "falar" com os passarinhos que estão na árvore (enquanto ela está do lado de dentro, sentada na janela), correr até o banheiro quando me vê entrar e gritar pelo carinho, e deitar para beber água.
Apesar de não ser dada à expressões de carinho, ela é meu outro amor.
E certamente, o amor do Boris. E quando tiveram os filhotes a felicidade se completou, mas essa é outra história...