domingo, 31 de maio de 2009

(Con) Vivências


Último dia de maio, e até agora, tinha tido muitas idéias, mas pouca vontade de sentar para escrever. Enquanto preparava minha janta tive uma vontade imensa de falar sobre algo que sempre me perturbou, mas que hoje em dia tem me tirado do sério completamente: outros seres humanos.
Quando a gente mora com os nossos pais, aprendemos com eles os mais diversos hábitos, modos de arrumar ou desarrumar, o que, como e quando comer e assim por diante. De modo que por mais insuportável que seja a convivência com eles, tudo parece também nos pertencer.
Agora, uma experiência que põe à prova sua paciência é dividir o "seu" espaço com seres que não partilham com você esses hábitos cultivados desde a mais tenra infância.
Minha primeira experiência real nesse aspecto foi aos 20 anos quando saí de casa para morar numa república. Não bastasse o fato de ir morar numa cidade estranha, onde não conhecia ninguém, fui dividir a casa com outras pessoas. Pior, dividir o quarto com outra pessoa.
A regra de ouro para uma convivência menos irritante é ceder. Uma hora você abre mão disso ou daquilo em nome da paz, ou em nome do que quer que seja, desde que não se sinta mais tão deslocado. O problema é que, se você cede sozinho e sempre, não há boa vontade que possa impedir o desastre.
A despeito do carinho - na verdade do amor - que tenho pela ex-dona da minha primeira república, aquele período foi uma grande prova, que certamente me preparou para as piores que estavam por vir. Troca de república, morar com irmão mais novo, namorado... tudo isso me fez descobrir o quanto estabelecer minhas normas dentro de um ambiente que seja EXCLUSIVAMENTE meu, me é importante.
Olhando para esses 9 anos de vida longe das normas de meus pais, percebo que só fui plenamente feliz quando morei apenas com meus gatos. E olha que já tive experiências magníficas morando com outras pessoas.
Existe aquele momento, no meio da noite, por exemplo, em que uma xícara de chá e uma boa companhia que não precise dizer tchau numa determinada hora e que ao mesmo tempo você tenha alguma liberdade, é o que há de mais perfeito. Mas são momentos.
Eu pelo menos, embora possa ficar falando horas a fio sobre qualquer coisa, não penso que a presença de outro ser com quem eu me sinta à vontade seja imprescindível no meu dia a dia. Eu posso - e faço isso - contar tudo para meus filhotes, com a vantagem de não ser contrariada. (risos)

Olho para minha casa, que não considero minha, e penso em tudo o que eu poderia mudar, em como boa parte do stress que sofro seria minimizado caso eu não a dividisse com outras pessoas que partilham comigo apenas o fato de serem humanas - embora às vezes eu duvide disso.
Outro dia eu escrevia sobre meu etnocentrismo, porque me habituei a falar assim sobre minha imensa aversão à convivência com outras pessoas por tempo prolongado. Chego ao ponto de perder a fome, a vontade de falar, de respirar ao chegar em casa depois da aula e perceber que ainda há gente acordada, e por mais que eu adore o fim de semana, desejar que ele passe rápido, pois sei que no trabalho e na aula, não preciso dividir meu espaço com ninguém por mais que aquelas horas pré-estabelecidas.
Claro que se pode considerar meu relato uma forma exagerada de me referir ao inferno de dividir uma casa, mas sendo essa história a minha e existindo a impossibilidade de transferir a outros o abalo psicológico que a situação me causa, acredito estar quase sendo fiel ao que passo.
Entrando na crise dos trinta, minha rabugentice beira o extremo, e atribuo isso e tudo o mais que me irrita à falta de um espaço pra chamar de meu...
Quando eu voltar a reinar plenamente no meu espaço, precisarei de novas desculpas para justificar meu modo Nana - entenda-se chato - de ser. Até lá... são outras histórias.

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