terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Reflexões circulares

Amigos que vem e que vão. Anos a fio. Passa a vida. Vida cinza. Cinzas.
Juntos desde a manhã até a madrugada fresca.
Um brilho apagado, entre a névoa, a fumaça. Muitas reflexões, medo, morte ao lado de amigos. Amigos breves, objetivos. Amizades que não duram mais que dez minutos e que te acompanham toda uma vida. Como é possível? Será real?
Todas as confidências ou nada. O silêncio. A simples companhia todo o tempo e a falta que faz. O desespero que sinto sem eles, o alívio que sinto quando se vão.

Como posso sentir coisas tão diversas em tão pouco tempo por tão longos anos?

Tantos pensamentos me tomam como se não tivessem responsabilidade por eles. Quantos momentos dedicados a um calor passageiro. Seria calor, posto que não chegam a aquecer meu corpo?
O gosto amargo na boca e a certeza de que não os encontrarei novamente ao mesmo tempo em que desejo encontrar o próximo. O gosto amargo na boca. O café na xícara esfria. Que falta também nos faz...
Noites intermináveis... dias, anos. Intermináveis. Adentro mais uma madrugada. Quente. Teria entrado só?
Tomam-me o ar. Tomam-me a mão. A mesma mão.
O sol deseja surgir. Noite breve.
Olho firme o companheiro que também se vai e não volta mais. Solidão. Solidão que parece não haver junto deles, mas que está ali ao meu lado. Sempre. Firme companheira.
Companheiros que vão e não voltam mais. Nunca mais. Outros virão. Novos companheiros que vem e que vão. Talvez para sempre.
E o dia insiste em chegar. Mais uma vez.
Já cansada. Adeus companheiro. Apago-te cigarro, mesmo antes do fim...

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Minha mãe tem medo da chuva

Com uma pitada de misticismo e acreditando naquelas palavrinhas mágicas, há muito conhecidas de algumas mulheres mais velhas, chama-se a chuva. Ela não se demora... sempre vem. Cai como que trazendo aquela paz tão esperada, aquele alívio tão solicitado; impossível não trazer ao rosto uma expressão de leveza, aquela que fazemos quando, depois de passar um certo tempo debaixo de um sol escaldante, finalmente encontramos uma sombra ou a chuva nos brinda com sua beleza...

A brisa que a acompanha é um dos melhores presentes da natureza num dia de verão.

Eis que é chegada a época de festas. Sol ardente num céu extremamente azul. Há algum tempo sem chuva e nenhuma esperança de que ela viesse nos refrescar antes do ano novo. Porque não convidá-la então???

Véspera de natal. É possível sentir-se grudando em qualquer coisa na qual se encoste. Total desânimo... causado obviamente pelo extremo calor. Chamo a chuva, ela que conhece tão bem esse velho ritual. Que venha ao menos trazer um pouco de frescor. E ela vem. Muda o céu em poucos minutos, inunda a alma com suas gotas e com sua tranquilidade. Faz renascer o verde das plantas e o brilho no olhar. A tarde escurece rapidamente, lindos raios brilham naquele incrível céu ora cinza, ora azul escuro. Os ventos trazidos pela chuva tomam conta de todos os espaços; trazem novo fôlego, novo ânimo a tudo o que tocam. Trazem um leve sorriso de tranquilidade às faces avermelhadas pelo sol.

Não dá pra resistir, é preciso ao menos olhar pela janela de tempos em tempos, sorrir e falar daquele acontecimento único. As plantas dançam, tudo ganha movimento, a coloração do céu é um show à parte. Tudo se torna tão mágico! A incontrolável vontade de correr na grama saudando a mãe natureza, com a mesma alegria com que ela nos atende, de simplesmente esquecer que existe todo o resto para apenas vibrar a cada gota sentida na pele. Erguer os braços e sorrir em agradecimento e contemplar toda a beleza que há ali, disponível pra você, pra mim, pra todos... mas minha mãe não aceita. Ela tem medo de chuva...

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Yes, we can...



Tá certo que chega a ser emocionante a eleição de um presidente negro nos EUA, mas será que é mesmo tudo isso? Essas comoções em massa acabam causando um certo medo, receio melhor dizendo. Afinal de contas estamos falando daqueles que crêem ser os "donos do mundo". Muitas reportagens sobre a possível mudança no cenário mundial graças à presença de Obama no comando do show surgem a toda hora. Alguns acreditam piamente que os EUA se transformou...e o pior, em algo melhor...Enfim, deixando minhas paranóias particulares um pouco de lado, fico pensando numa conversa que tive há poucos dias com uma grande amigo sobre o Obama. Não penso como meu amigo que a teoria da conspiração seja a regente mor nesta história toda, mas confesso que fiquei tentada a investigar...
Meu pai diante de qualquer reportagem sobre o novo presidente, quase se curva e chora " em nome da nova lei, da ordem e do respeito que ele trará"...será?
Quando penso nessa coisa de "Yes, we can" isso parece meio..."sim, nós EUA, somos os reis e podemos tudo mesmo", e que a idéia de que tudo vai mudar só existe na cabeça de alguns esperançosos que anseiam morrer num mundo menos pior - porque viver nele já é uma vitória de qualquer maneira...
De repente, estou fazendo uma pesquisa pra um outro assunto também muito interessante, e lá está a vida do Obama estampada... Putz...dormir ou ler sobre o novo presidente...?? Dúvida cruel...Ler!! Sempre a melhor opção. Páginas e páginas sobre como os EUA mudaram radicalmente; mas o mais chocante, como se tornaram líder em respeito à diversidade racial...realmente engraçado! Outro dia mesmo um norte-americano tratou mal um brasileiro negro dentro do avião, com testemunha e tudo mais... isso pra citar um exemplo bobo. Então vem o Tic Tic me dizer que essa eleição tem cara de montagem, de compra, de.."sim, nós podemos enganar vocês como e quantas vezes quisermos hahahah" (entenda que foi uma risadinha diabólica) e eu penso de novo "será?". Será possível que o Obama é uma montagem pra depois de tudo o que aconteceu nos últimos anos a gente pense que eles mudaram?? Será mais uma vez que um governante foi criado, bonitinho, engravatado e fazendo lembrar as minorias pra que tudo pareça menos crítico?
Não que seja a melhor coisa do mundo duvidar de tudo mas também apostar no tiozinho todas as fichas fica parecendo ingenuidade. O jeito deve ser esperar pra ver, torcer pra não mais um embuste estadunidense e seguir em frente acreditando, claro, que nós também podemos...

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

A falta de um sol

Nunca pensei que realmente sentiria falta de um dia ensolarado como senti nos últimos meses! Essa "coisa" de sair para tomar sol sempre me pareceu desnecessária, a menos que estivesse no meio de um gostoso inverno. Isso me faz lembrar o quanto estações bem definidas me são importantes!!
Passei os últimos anos numa cidade onde se pode dizer que as estações acontecem quando têm que acontecer, mas de repente, a necessidade de uma mudança se fez extremamente importante. Sem pensar muito juntei minhas malas (meu PC e o Guismo não poderiam deixar de me acompanhar) e me mudei. Ao chegar na capital do Paraná, a primeira impressão foi a de que um dia nublado era tudo o que eu precisava para botar as idéias em dia, sentar, acender um cigarro e voltar a escrever.
Não foi o que aconteceu. Os dias nublados eram uma constante, e minha vontade de sentar e escrever se transformou num desejo intenso de acordar e ver o sol aquecendo meu rosto, enquanto eu fumava meu cigarro num banquinho qualquer.
O uso constante de roupas de inverno me dava a eterna impressão de sufocamento. Aquela mesma que sinto ao ficar muito tempo num elevador.
Dia após dia, num período de três meses, ansiei acordar com o forte sol que já brilhava do outro lado do estado.
Declarada amante do inverno, me vi diante da espera incessante pelo dia quente.
Quando estava eu novamente de malas prontas, mas desta vez rumo ao oeste do estado, mais precisamente rumo à pequena Cruzeiro do Oeste, o sol resolveu me presentear com uma bela despedida. E o dia 06/12/2008 foi um dia ensolarado, quente.
Depois de tantos dias nublados, onde o sol apenas mandava um breve recado de que ainda brilhava no céu, aquele sábado brindou minha estadia em Curitiba.
O que restou? A forte lembrança de dias lindos, cinzas, com ventos fortes e garoa fina. E, obviamente, um novo sentimento: o agradecimento pelo sol quente.