domingo, 31 de julho de 2011

Estamira

Assisti ao documentário Estamira na noite de sábado (30/07/2011) e a questão que surgiu depois foi como pessoas como ela permanecem no mais completo "silêncio". Eu defendi que ela teve uma grande sacada. Mas ouvi que não, já que ela mesma havia dito que gostava de ajudar mas nunca "fez nada", isto é, nunca foi atrás de alguém que a ouvisse, ou pudesse escrever suas ideias.
Como afirmar isso, vendo que os que a cercavam, em sua maioria, a tinha como louca? Que credibilidade tem um cidadão como ela?
Por mais útil, por mais certo, por mais profundo, sábio, incrível, significativo que seja o que se tem a dizer, quem pára, realmente, e ouve o que as estamiras têm a dizer? Quem são os moradores de barracos, os catadores de "lixo", os mendigos?
Nós não nos interessamos por eles; queremos que permaneçam escondidos, invisíveis, em absoluto silêncio.
É preciso ter credenciais para falar, para ser ouvido. E as credenciais são muitas: diplomas, terno e gravata, imagem pública "positiva", dinheiro. Principalmente dinheiro.
Sem estas credenciais você não tem o direito de reivindicar seu espaço para falar e ser, efetivamente, ouvido.
Você pode falar e muitos o fazem, mesmo sem as credenciais. Mas quantos são ouvidos? Quantos são ouvidos e compreendidos? Quantos são ouvidos e levados a sério?
A Estamira conseguiu ser ouvida. Mas quantos a compreenderam? Quantos questionaram a vida e suas "verdades" depois do documentário? Quantos não a viram somente como louca? Quantos, enfim, querem saber da "verdade"? São muitas as perguntas, creio eu, mas poucas as respostas.
Num mundo onde falar deveria ser, no mínimo, facilitado graças ao avanço da tecnologia e do acesso aos inúmeros meios de comunicação hoje existentes, temos mais exclusão. "Quem é você na ordem do dia?". Se seu nome não diz nada no google, suas "credenciais" não são válidas.
Neste mundo onde deveríamos, pelo menos, poder falar, muitos de nós ouvem apenas uma ordem: permaneça em silêncio.

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