sábado, 19 de março de 2011

A cada livro



Os livros são para mim como drogas. Como imagino que as drogas sejam para um viciado.
Ao pegá-los não posso mais deixá-los até que chegue ao fim.
Devoro-os como se deles dependessem minha vida, como se a falta deles pudesse me deixar sem ar.
Perco o sono, a vontade de comer, de fazer qualquer outra coisa que não seja acabar com ele, absorver cada linha, cada ideia, cada página...
Durante toda a leitura, a tensão se espalha pelo corpo, os ombros rijos, o pescoço dolorido, a face contorcida.
Ao fim, uma certa tranquilidade, o sentimento de missão cumprida. Um sorriso frouxo nos lábios. O êxtase. O clímax da droga.
E depois... Bem, depois aquela agonia outra vez.
O desespero em busca de outro livro, de outra história, de outras teorias.
Linhas que me hipnotizam, me prendem, me dominam.
Impaciência.
O nervosismo me leva a morder a parte interna da boca, os lábios, os dedos. Não é possível prestar atenção em nada. Em ninguém.
Arranco os cabelos, mexo as pernas incontrolavelmente. Até que eles cheguem. O entregador é aguardado com extrema ansiedade.
Aquela caixa contém a minha droga. O meu alívio.
Sento-me na cadeira, próxima à janela. E abro um novo mundo. Aventuro-me por ele, descubro novas fontes de alegria, aguço a curiosidade, alivio as tensões. Transporto-me para um outro universo e não posso mais pertencer à realidade ao meu redor.
Somente tenho olhos e sentimentos para aquelas páginas de papel à minha frente.
Tranquilizo-me até me dar conta que o fim está próximo. E desabo frente à verdade estampada nas folhas brancas repletas de palavras: vai começar tudo de novo...

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