domingo, 7 de fevereiro de 2010

Quente lentidão



Um calor arrasador.
É impossível pensar. Impossível comer. O corpo só não rejeita a água.
As noites parecem curtas, o sono inquieto. Os dias longos demais, o ânimo irritadiço.
Tudo se torna imensamente chato, cansativo. Falar parece difícil.
O corpo arfante.
As leituras se tornam lentas, assim como os movimentos, a interpretação, a produção.
Nestes dias de horas quentes qualquer brisa tem um poder imenso. O corpo nu e úmido parece uma benção.
A espera da água que vem do céu é quase torturante. Mas há dias ela não chega. Parece se evaporar antes de nos brindar com seus cristais. Parece não ter mais o intuito de nos alegrar e nos proteger contra esse momento que chega, sim, a parecer uma prévia do inferno.
Dias mornos são bem vindos, mas dias sufocantes como os que temos vivido, são amedrontadores. A única coisa que brota nos confins da mente é a imagem incessante de dias de chuva e a bela lembrança dos dias cinza, que desta vez, tardam a chegar.
O ato de respirar é sufocante, como se a cada lufada de ar a pele e os pulmões se enchessem de areia, a temperatura aumentasse, a vontade de qualquer coisa se extinguisse. A compreensão das coisas se torna lenta, como os passos.
São dias que não possuem mais a beleza, a alegria. São dias pintados com a cor triste do pó. A natureza se resseca, bem como parece secar a alma diante da vermelhidão do dia.
As plantas de folhas murchas, os animais de olhar lânguido, o solo abrasador. Tudo, tudo colabora para a sensação de calor, de tédio, de sufocamento, de quase desespero.
Olhar o acúmulo de papéis, de tarefas, de tudo o que não envolva água e poucos movimentos, lembra o quão quente são esses dias. E mesmo assim, brincando na água e com poucas atividades, é impossível esquecer o verão.
E a espera pelo seu fim, pela chegada das chuvas, do outono, do inverno se intensifica. Sempre na esperança de livrar-nos da punição antecipada, do castigo que alguns julgam necessário. Afinal, há de se entender que nem todos precisam arder nessas chamas do mal.

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